Tudo ao seu tempo; a cada dia a sua agonia

Por Walmir Rosário*

No dia de ontem – 28 de julho de 2020 – o jornal Agora completaria 39 anos de existência não tivesse sido abatido em pleno voo, deixando a região cacaueira órfã de um dos mais vigorosos meio de comunicação impressa. Em 1981, por obra e graça – além da determinação dos jornalistas Ramiro Aquino e José Adervan, Itabuna ganhou um novo jornal, já em offset, sinal de modernidade.

O foco era atingir a comunidade regional e para esse mister um grupo de pensadores da comunicação debateram exaustivamente para traçar as necessidades do leitor e oferecer um jornal à altura. E o Agora chega às bancas no aniversário dos 71 anos de Itabuna com uma edição histórica no seu conteúdo intelectual e nos padrões industriais já utilizados nas grandes cidades.

Se o time de jornalistas contava com o que existia de mais competente, o maquinário não era lá dos mais apropriados para o projeto desenhado. Mas pouco importava diante da inteligência dos gráficos em rodar uma folha dobrada para, em seguida, imprimir a outra parte até chegar ao formato A2 dos tabloides especiais, tudo isso feito sem deixar cair a qualidade da impressão.

Como sempre acontece, os pessimistas, já na primeira edição, vaticinaram que sua vida seria efêmera, já que Itabuna não comportaria um jornal daquele porte, considerado grande demais para a demanda interiorana. E os prazos marcados foram sendo destruídos um a um, com a aquisição de novos equipamentos gráficos, a chegada da informática, o que facilitou a criação de novos produtos editoriais.

Durante todo o período em que circulou – 2018 – o Jornal Agora, historicamente, cumpriu o seu papel. Desde que foi criado e até a última edição, se tornou o porta-voz da Nação Grapiúna, como José Adervan costumava nominar a região cacaueira, oferecendo ideias, propondo modelos de desenvolvimento, elogiando atos e fatos e criticando sempre os que se faziam necessário.

E a sociedade grapiúna sempre se viu no Agora, jornal considerado como o espelho regional, desafiando situações difíceis as costumeiras crises econômicas. Não sei como classificar as ousadias do Agora e de Adervan, em fazer circular o maior jornal impresso do interior baiano, circulando em grande número de cidades e, inclusive, na capital. Sempre cercado de elogios pela sua qualidade.

E qualidade sempre foi marca registrada o Agora. Desde o comecinho, quando era impresso em máquinas não tão apropriadas, mas sempre com uma diagramação bem-feita, até inovadora. Melhor que isso só o conteúdo editorial, abordando assuntos variados, com a finalidade de atender aos anseios de toda a comunidade, de mamando a caducando, como gostam de dizer os médicos veterinários.

E essas características têm a marca da ousadia e autonomia concedida por Adervan à redação. E não é por acaso que pela redação do Agora passaram e deixaram marca o que sempre teve de melhor no jornalismo baiano. Não citarei nomes, pois estão impresso no expediente e poderei cometer ato falho ao deixar de citar alguns, mas posso assegurar que o Agora foi uma grande escola para tantos colegas.

E essa equipe de notáveis jornalistas foi responsável por forjar novos profissionais. Na redação do Agora aprenderam a escrever melhor, com um estilo próprio e de forma mais apropriada, sempre respeitando a Língua Portuguesa. Acompanhado de aplicar o melhor do vernáculo, aprenderam, ainda, a raciocinar e a exercer o jornalismo com a dignidade que essa arte (?) merece.

Participei da equipe do Agora em três oportunidades, sempre levando em suas páginas temas de interesse da sociedade. Conhecedor da filosofia de Adervan, travávamos um verdadeiro debate nas páginas do semanário. Em 2002, me encontrava trabalhando nos estados do Paraná e Santa Catarina quando recebi o convite para formular o projeto do Agora diário.

Convite aceito, elaboramos o projeto e com a mesma equipe – mais dois reforços – botamos o bloco na rua, melhor, nas bancas, plenamente aceito pelos leitores de todo o Sul da Bahia, circulação e redação ampliada posteriormente para o Recôncavo. E o interiorano agora passou a circular em suas edições de final de semana com cerca de 68 páginas, muitas vezes passando das 100.

Uma história à parte eram as edições especiais, como a das bienais criadas por Adervan com a cumplicidade de Guilherme Lamounier, abordando a música, literatura, artes plásticas e dança regional. Outro grande desafio era elaborar as edições de aniversário de Itabuna, com um fenomenal trabalho de pesquisa da história da cidade, o presente e projeções para o futuro, em todos os segmentos sociais.

As histórias de Adervan e do Agora se confundiam e passaram pelo crivo da sociedade grapiúna obtendo aprovação com distinção e louvor. Mas como está mais que provado que tudo tem seu ciclo neste planeta terra, Adervan nos deixa em 12 de fevereiro de 2017 e o bravo jornal Agora ainda resistiu por pouco mais de um ano, quando foi obrigado pela família a publicar sua última edição.

Pelo visto, a nada ou ninguém é dado ao direito de se perpetuar per omnia saecula saeculorum.

*Radialista, jornalista e advogado