Investimentos a curto prazo

Por José Adervan em 21 de janeiro de 2011

A herança deixada pelo governo passado inclui o incremento da inflação, o ajuste do câmbio e a taxa de juros elevados, que é apontada como uma das mais altas do mundo desenvolvido (ou em desenvolvimento). Mas, ao lado dessas medidas, temos a necessidade de altos investimentos em estradas, portos e, ainda, na reconstrução de estádios para a Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016. 

Tendo-se em vista a necessidade de outros investimentos em infraestrutura – saneamento básico é apenas um deles – e na área ligada à agricultura, ficamos a imaginar onde se buscar essa volumosa carga de recursos para atender a tantas demandas sem acentuar o problema que começa a chamar a atenção de todos, que é a inflação que começa a mostrar crescimento, e que até o final do ano tinha sido detectado algo como 5,7%. 

O conflito se torna bem maior quando se sabe que a demanda do cacau por investimentos, cerca de R$ 1 bi por ano para resolver a pendência de uma vez por todas, vem sendo negligenciada pelo governo federal desde o início do mandato de Lula e, agora, os agricultores tomam conhecimento da pródiga liberação de reais para aplicar na construção (ou reconstrução) de estádios, com o intuito de atender aos jogos da Copa do Mundo, quando antes se dizia que não haveria como o país fazer investimentos nessa área e que tudo correria por conta das empresas particulares. 

Na Bahia, o governo Wagner deverá investir cerca de R$ 700 mi para trazer a Fonte Nova de volta, dentro do formato mais moderno possível, enquanto as cidades do interior lutam, desesperadamente, para obter quaisquer recursos para o saneamento básico. No Rio de Janeiro, os cariocas tomaram conhecimento de que a verba de R$ 600 mi iria estourar em R$ 1 bi para a restauração do Maracanã – tudo isso sem contar os gastos com abertura de novas pistas para escoar o cada vez maior volume do tráfego. 

Em São Paulo, tanto o governo anterior quanto o atual se recusaram a meter a mão no alforje para construir novos estádios. Mas, em Pernambuco, que tem três bons estádios no Recife, será construída uma nova arena para pela viúva. Há estados que nenhuma empresa deseja meter a mão no talão de cheque para bancar a construção, por absoluta falta de capacidade de promover o retorno desse dinheiro, o que demonstra a incúria de CBF ao se comprometer ou a escolher os locais onde seriam disputados alguns jogos da Copa. 

Mas, e daí? Bem, o dinheiro sairá dos cofres públicos, via BNDES. Da mesma forma, teremos a construção de milhares de quilômetros de estrada Brasil afora, também através do banco.  

A única grande vantagem que nos trás a Copa do Mundo é que muitas dessas obras públicas não sairiam do papel. Entretanto, é óbvio que apenas alguns municípios e Estados serão beneficiados com saneamento básico, estradas e portos, que servirão, a posteriori, para incrementar o desenvolvimento nacional em pontos estratégicos. Claro, a grande maioria das cidades não verão nem a cor dessa dinheirama e continuarão no mesmo patamar de miséria endêmica em que se encontram desde o descobrimento do Brasil. Também é certo que haverá como liberar recursos para alguns pontos da economia, mas não sabemos se o cacau estará incluído nesse rol de lavouras a serem incrementadas e nem se a BR-101, em nossa região, será duplicada ou melhorada. Mas há informações de que do Espírito Santo até Eunápolis, aqui, na Bahia, serão beneficiadas. 

Também haverá um incremento razoável na rede hoteleira. Cidades como o Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador terão aumentado o número de leitos. Mas desenvolvimento é assim mesmo: enquanto umas regiões são beneficiadas, outras pagam caro o preço do sub-desenvolvimento…