Walmir Rosário*
Mais uma vez a população da orla norte de Ilhéus se vê às voltas com o avanço do mar e a consequente destruição das casas mais próximas, causando enormes prejuízos à sociedade e a cidade como um todo. Essa história se repete em forma de tragédia e pouco ou quase nada o poder público tem feito para, se não evitar, pelo menos minorar o sofrimento econômico e social dos atingidos.
Há muito que se fala ser causa do avanço do mar culpa do espigão construído para abrigar o Porto de Ilhéus, no Malhado, o que faz todo o sentido e referendado em vários estudos por especialistas. Além das causas e os efeitos, também foram apresentadas soluções para conter o avanço, com obras simples, mas sua execução requer uma grande soma de recursos e atenção permanente.
Como sempre, recorro ao vice-prefeito José Nazal informações e fotos de Ilhéus, que registam o antes e o depois, no caso de problemas ou de simples histórias. E ele disponibiliza fotografias dos bairros São Miguel e São Domingos, clicadas em 20 de dezembro de 2006. Além das fotos, informa que nessa data já existiam os espigões, colocados em 1998.
Reproduzo o texto de Nazal: “O projeto foi assinado por Aleixo Belov e a execução foi feita pela empresa Plena Engenharia e previa cinco espigões de 250m cada, a serem construídos um por ano. Como os recursos foram disponibilizados de uma só vez, a orientação do projetista foi para que construíssem um de 250m e quatro de 150m, devendo esses serem ampliados até completar os 250m, ano a ano, após a ‘engorda’ da praia, pela ação das marés”.
Nos últimos anos não se tem notícia de ações para tentar resolver ou minorar o problema, tanto na contenção do avanço do mar, quanto de uma mudança na ocupação do solo dessas áreas. As construções são feitas sem qualquer tipo de problema, e muitas das quais sequer teve licença da prefeitura, conforme denúncias constantes nos meios de comunicação, entre eles as redes sociais.
Se a propriedade particular corre perigo de sumir do mapa, a rodovia que liga Ilhéus a Itacaré, a BR-001, também pode desaparecer, criando um problema sem precedentes para a economia regional. De um lado, a prefeitura de Ilhéus deixa à mercê seus munícipes, de outro, o Governo do Estado da Bahia, nada tem feito para salvar a rodovia, imprescindível para a região.
Simplesmente deixam o problema se agravar para criar decretos e providências do tipo “meia boca”, já que não atenderão as necessidades que o caso requer e servem apenas como um paliativo, longe da solução. Uma dessas ações propostas é a transferência das pedras utilizadas na construção da ponte Jorge Amado para a barreira de contenção, no sentido de evitar a derrubada de mais imóveis.
As ações planejadas pela prefeitura estão muito longe de evitar novas destruições de imóveis nos bairros costeiros. Pretender apenas amenizar o impacto causado pelas marés é como carregar água em cesto de palha, haja vista os exemplos anteriores. Passada a refrega, tudo se aquieta como dantes, prometendo voltar no próximo período de campanha eleitoral.
A omissão do prefeito Mário Alexandre é a mesma dos gestores passados, que não encararam o enorme problema com a atenção devida e saíram em busca dos recursos para completar a obra recomendada por Aleixo Belov ou outras recomendações técnicas. Não será um simples decreto emergencial que fará conter a fúria do mar, apenas tenta recuperar o terreno perdido.
Depois do leite derramado, promessas de intervenção da prefeitura e o governo do Estado são feitas, emboras ainda não se saibam em que tamanho e quais as técnicas utilizadas para recompor o ambiente prejudicado. Enquanto isso, os moradores apenas contabilizam os prejuízos decorrentes do esquecimento do poder público e não têm a quem se queixar ou reclamar das perdas substanciais.
E a cidade continua à deriva, observando a publicações de notícias sobre a realização de obras e serviços que nunca chegam efetivamente à população. Se sobram promessas faltam quem as cumpram com a mesma intensidade e os arroubos de generosidade que marcam os candidatos em campanha. Ilhéus não merece o esquecimento de seus governantes de continuarem a construção dos espigões.
*Radialista, jornalista e advogado
Foto: José Nazal