Por Lisdeili Nobre
No dia 29 de junho de 2023, no município de Itabuna/BA, a cabelereira Luana Brito foi vítima de feminicídio praticado pelo seu ex-marido.
“Luanas” são cabelereiras, empregadas domésticas, advogadas, juízas, promotoras de justiças, médicas, professoras, donas de casa, engenheiras, policiais, são todas nós, as quais são violentadas diuturnamente, caso ousem a romper com o pacto hegemonicamente cultural, que as mantém no papel de submissão e desigualdade.
Ontem em conversa com um grande amigo repórter, ele me questionava o porquê da violência contra a mulher não parar de crescer, e que isto seria também um sentimento popular. Respondi ao meu caro amigo, que os equipamentos da prevenção primária de proteção à mulher são insuficientes, os quais são primordiais, neste tipo de violência, ou seja, há poucos esforços institucionais, voltados para a causa da violência doméstica, para a identidade e papéis sociais dos envolvidos neste fenômeno criminoso.
As DEAMs que são unidades especializadas da Polícia Civil e a Lei 11.340 (Lei Maria da Penha) são marcos neste enfrentamento, mas são políticas criminais que apenas fomentaram a mulher a denunciar, uma violência já sofrida. São equipamentos policiais, que atuam quando o crime já ocorreu, ou seja, instrumentos governamentais que não atuam na prevenção primária da violência de gênero. Atuar na origem do fenômeno crime, é primordial, uma vez que esta violência é estrutural, o que equivale dizer que é cultural.
Cultura é mutável, desta forma, para enfrentar a violência contra a mulher, depende de ações enérgicas na formação cognitiva do ser humano e de seu papel gênero. Deve-se atuar na compreensão que a mulher é livre, e tem todo direito de fazer as suas escolhas e de dizer NÃO ao um homem ou até mesmo à uma mulher quando ELA quiser.
Trata-se de enfrentar uma cadeia social complexa, que há séculos coloca a mulher em setores públicos e privados em condições de desigualdades, e por conseguinte, a mantém, na sua grande maioria, em situação de vulnerabilidade. Ela está sujeita à uma série de dependências, sendo as de maiores destaques: a financeira, emocional, intelectual e familiar.
A prisão de autores de feminicídios das “Luanas” traz apenas um acalento no sentimento de justiça, mas por si só, não altera este cenário de disparidade social, para a menina, a jovem, a mulher e a idosa. É sobretudo necessário há séculos, décadas, medidas que possam influenciar no comportamento, costumes e hábitos, gerando uma igualdade de gênero, em todos os âmbitos da sociedade. Ações públicas que retiram nossas “Luanas” das prisões dos lares e dos relacionamentos tóxicos, as aprisionando exclusivamente em atividades domésticas e familiares. Mais do que ações policiais, é preciso, ampliar as mulheres nas salas de aula e no mercado de trabalho. As redes de ensino em todos os níveis têm que discutir os papéis de gênero e desenvolver uma nova cultura de isonomia entre homens e mulheres.
Hoje, o Litoral Sul da Bahia conta com a Rede Feminista Cristiane, que tem marcado presença incisiva em movimentos de defesa dos direitos femininos. Suas feministas promovem gestões públicas em busca de novos equipamentos na defesa da mulher e cola, colam duro quando há violência com qualquer mulher, exigindo todas as reparações devidas. A Rede tem composição bastante heterogenia, são tantas mulheres empoderadas que não haveria espaço aqui para dizer o nome de tod@s.
“Luanas”, abrem alas para o Agosto Lilás, que é uma cor que degrada do rosa ao azul. Se rosa identifica o feminino, há controvérsias, mas o lilás caminha em direção ao azul. Azul que identifica com o horizonte. Horizonte que identifica com liberdade. Liberdade que identifica com que o desejamos, sermos LIVRES.