– “O tessálico que vai lutar, com o senhor, ele é o maior homem que já vi. Eu não lutaria com ele”, disse o menino.
– “Por isso que o seu nome nunca será lembrado” (Aquiles).
A minha “Oração aos Professores”, introduzida por um diálogo singelo entre um menino, que seguindo ordens de Agmanón considerado o rei dos reis entre os gregos, busca Aquiles para enfrentar um guerreiro da Tessália. A descrição ecoada para posteridade pela deusa que os gregos chamavam de “Mnemosyne”, Memória. Esta memória é o canto dos poetas, que registrava e deixava para as próximas gerações, a tradição, como: da Ilíada e da Odisséia, dos Cantos Cíprios e várias outras histórias que marcam nosso imaginário e são ilustradas por filmes como “Troia”.
O que quero aqui trazer à tona, são máximas e sentimentos um pouco fora de moda.
Sim, isso mesmo, ética, honra e respeito aos que antecederam, os antepassados.
Certa feita, um autor cunhou uma frase mais ou mesmos assim: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”. Apesar de ter ficado famosa e comumente atribuída a Isaac Newton, esse conceito tem origem no século XII e é ligado a Bernardo de Chartres. Este utilizou a metáfora dos anões estarem sobre ombros de gigantes, que expressa o significado de “descobrir a verdade a partir das descobertas anteriores”.
Veja, desprezar aqueles que vieram antes de você, é o mesmo que passar pela ponte, em seguida destruí-la, pode causar um efeito contrário, sendo que, num momento de necessidade, quando as hienas te perseguirem, já não terá mais esse sustentáculo para ultrapassar o abismo colocado a sua frente. Logo, vai sucumbir, será tragado.
Apenas à título de elucubração, é como se, num cenário hipotético e eventual, chegássemos a situação inusitada de termos renomados professores afastados sem remuneração, alguns deles inclusive fundadores de instituições de ensino superior, com uma desonrosa justificativa qualquer, lançada ao resvalo da pena ou do teclado, mais ou menos como algo da estirpe “não mais estão aptos ao ensino por conta das aulas digitais”.
Notem.
É como substituir professores catedráticos, decanos, colunas de sustentação de um curso, por aqueles navegantes da liquidez e fluidez “Baumeriana” (sic). O próprio Bauman denuncia a descartabilidade pós-moderna. Mas descartar professores?
Nesse cenário quase distópico, que talvez/casualmente não encontre ressonância na nossa realidade, e sim em Nice na França, será que algum intrépido sairia de sua zona de conforto para falar em benefício dos outros?
Falar benefício dos outros talvez seja papel de advogado, ainda que pro bono no exercício virtuoso e indispensável à administração da justiça.
Quero continuar crendo que sim! Há de existir quem se constranja a falar pela causa de seus pares, afinal é a sua própria. Com alguma fé, haveria a intercedência dos próprios professores, sem falar nos aguerridos estudantes, porque ninguém gostaria de incorrer na célebre frase de Machado de Assis, no capítulo XVIII do Livro Quincas Borba: “O melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão”.
Quem tem o chicote à mão não sente o golpe desferido, geralmente busca, com desfaçatez, atrair para si o auto perdão: “apenas cumpro ordens”.
Outro dia li por aí algo que poderia se assemelhar a tal realidade em algumas cidades do Brasil, mas a crítica direta contra quem os remunera – mas que agora parece casualmente não querer mais remunerar – não pode ser feita livremente, sob pena de entregar ao algoz ferramentas previstas na CLT para acionar a guilhotina tecnológica no melhor estilo revolucionário de Robespierre ou Jean-Paul Marat. Daí, vamos ter que tratar isso como mera distração crônica, erguida ao acaso apenas para satisfazer o argumento reductio ad absurdum.
Mas todos sabem, a verdade não precisa de muito esforço para ser contemplada.
Basta olhar e ver.
Talvez encontremos um rascunho de resposta rememorando as categorias aristotélicas, quando aquele vai concluir que é muito importante para um observador descrever a realidade e as coisas do mundo, fazendo-se necessário distinguir primariamente o que é essencial, do acidental. O professor é essencial, pois, os alunos buscam o conhecimento, e este, não é da Instituição. Então, o saber é o que está em jogo, e creio que ninguém quer ser instruído por quem não conhece. O meio como isso será concretizado, ou a ferramenta utilizada, é nada mais que acidental. O desconhecimento disso é denunciante. É o culto ao efêmero.
E mais, a vasta literatura em pedagogia e qualquer estudante de licenciatura dos primeiros semestres sabe – o aprendizado é relacional. Por isso, tanto se fala na relação: Professor-aluno.
O que é esperançoso, bonito e instigante, ser constrangido pelo o desvelar da verdade.
Insisto – a verdade não precisa de muito esforço para ser contemplada. Basta olhar e ver.
Por mais que tentam atacar essa figura central no ensino, que é o professor. Com estratégias e metodologias de ensino. Invertendo demoníaca e copernicamente aquilo que é essencial.
A comunidade acadêmica entendeu e despertou do sono dogmático, vindo da cantiga da sereia.
Está na penumbra, escondido na trincheira é pior que a morte. Se é a morte que me espera, irei como um guerreiro. Não serei abatido como um cordeiro. Não é meu perfil, aqueles que me conhecem sabem e podem atestar. Sou fibroso, me comprometo, talvez seja isso a agonia de muitos que, gratuitamente, se colocam como adversos.
Seja como for, prefiro ser lembrado pela honradez, do que comer do manjar ofertado aos cadáveres dos meus pares. Que em minha memória seja revivido sempre posturas vinculadas com a verdade, inevitavelmente corajosas, desvinculadas ao jogo sujo do poder e barganha.
Saúdo aos meus colegas!!!! Deus abençoe!!!!! Sejam firmes.
Jeffson Oliveira Braga
Advogado, escritor, filósofo e PROFESSOR
Registro aqui minha indignação contra a unitfc.
Pela falta de respeito e honra pelos profissionais como vc Jefferson Braga e todos que sofreram com tal atitude da uniftc, nós alunos estamos muiiiiiiiiito tristes com esse situação e não vamos nos calar.
Continue sendo quem vc é,e será sempre honrado é lembrado por quem realmente sabe do seu valor como pessoa e profissional tbm.deus abençoe sempre.
Amei o texto professor, além da beleza da boa escrita e a profundidade do conhecimento filosófico, mais de tudo é a verdade contida nelas, a dor e a indignação pungente do que está sendo vivido agora. Que a vergonha e ou a sensatez se apodere de quem, nesse momento, tem nas mãos o cabo do chicote.
Orgulho de ter sido sua aluna mestre.
Esse texto nos inspira a lutar…