Por Walmir Rosário*
Nesta quarta-feira – 28 de julho – Itabuna completa 111 anos de emancipação político-administrativa e, mesmo maltratada que foi durante esse período de pandemia, comemora. Mas quem irá contrariá-la? Para uma cidade cosmopolita como Itabuna pouco importa a dificuldade sofrida, as intervenções desastrosas que tentaram frear o seu costumeiro desenvolvimento. Sabe superá-las.
Itabuna nasceu para brilhar! Se atualmente não nos mostra mais o espetáculo feérico com suas luzes de neon e acrílico nas fachadas das lojas da avenida do Cinquentenário, é porque se tornou mais discreta com o passar dos anos. Saudosistas – como eu – por certo gostariam de ver suas vitrines decoradas com a moda mais recente, exibindo com orgulho as cores de sua bandeira na ornamentação.
Isso deve ser coisa do passado! Ou não. Quem sabe ainda se recupera dos meses de fechamento, medidas tomadas para conter o temível vírus que ceifou muitas vidas nessa sua passagem desenfreada. Não é a primeira vez que Itabuna sofre um revés dessa magnitude e se recupera seguindo fielmente aquela letra do samba de Paulo Vanzolini: “Levanta sacode a poeira e dá a volta por cima”.
Se voltarmos um pouco na história, Itabuna – ainda distrito de Ilhéus – já possuía sua Associação Comercial, instituição atuante e que lutou bravamente para a transformação da vila em cidade, luta finalmente vitoriosa em 1910. Fundada em 1908, a Associação Comercial nasceu pioneira no Sul da Bahia e sua coirmã de Ilhéus foi criada apenas quatro anos depois – em novembro de 1912.
No comércio, o pioneirismo tomou o mesmo caminho pioneiro com o Clube de Diretores Lojistas – posteriormente Câmara de Dirigentes Lojistas – entidade fundada em 1963, seguindo o exemplo do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. A entidade não se restringiu às promoções em datas importantes como Natal, Dia da Cidade, Dia das Mães, Dia dos Pais e inovou com os concursos de vitrines em todas as datas comemorativas.
As grandes lojas nacionais abriam suas filiais em Itabuna e se notabilizavam pelo volume de vendas e cada espaço da avenida do Cinquentenário era disputado pelas tradicionais redes varejistas, que “brigavam” em pé de igualdade com as lojas locais. Os lançamentos das badaladas grifes eram realizadas simultaneamente com as grandes capitais brasileiras. Os long plays nacionais e internacionais tocavam em nossas três emissoras de rádio no mesmo dia em que estreavam em Rio e São Paulo.
Não sei se o itabunense era e ainda o é exibido, mas dançava nos clubes e boates ao som de bandas de sucesso e cantores contratados a peso de ouro, mesmo tendo à disposição músicos de primeira qualidade na banda Lord (show, ritmos e hoje Lordão). Chegavam aos clubes em carrões do tipo Aero Willys, Simca Chambord, Esplanadas, Galaxy e LTD Laudau, Opalas, vendidos pelas concessionárias que ganhavam prêmios como campeões de venda em todo o Brasil.
Era a época de ouro do cacau, das enormes fazendas de gado, de nossas casas bancárias e bancos comerciais locais, que movimentavam a economia regional junto com as grandes exportadoras de cacau, todas sediadas em Itabuna. É verdade que sofremos bastante com a chegada da vassoura de bruxa, mas lembramos da expertise anterior de ultrapassar as barreiras com outras doenças que atacavam o cacau, inclusive a pior delas, a oscilação de preço comandada pelo mercado internacional.
O Itabunense gosta de trabalhar, da boa música e do bom futebol. Não esconde que passou alguns anos longe do sucesso nos gramados, e, aos poucos, ensaia o retorno. E não poderia ser diferente, até para homenagear os craques de nossa seleção amadora hexacampeã, bem como os atletas do Rio Banco, de Itabuna, que em 1920, ao marcar o primeiro gol contra o Ypiranga, de Ilhéus, em jogo não terminou. Os ilheenses declararam guerra e sequestraram até o “trem de ferro” que logo retornaria a Itabuna.
O Itabunense não se abate e muitas vezes reclama com altivez dos que maltratam a sua cidade, levando-os ao ostracismo político com a mesma intensidade que os distinguiu e os elegeu. E segue a vida. É justamente esse comportamento que faz com que a cidade consiga superar grande parte das dificuldades, transformando-as em pautas de interesse econômico e social, por meio da geração de emprego e renda.
E como lembrar é preciso, na última década do século passado (nem tão distante) a economia de Itabuna despencou, fruto da colaboração do poder público municipal, chegando a fechar quase todas concessionárias de veículos. Cinco anos depois, todas elas estavam de volta e realizando bons negócios, numa demonstração de sua vocação natural para o comércio, indústria e os serviços.
Itabuna é a cidade do primeiro shopping center, do grande polo da educação, do centro de excelência da saúde, do comércio e serviços automotivos, das indústrias, dos serviços econômicos, administrativos e contábeis e do direito. Como num passe de mágica, as dificuldades da pandemia fez surgir a indústria e comércio informal de alimentação, com todas as vantagens e conforto do delivery, sem que alguém tivesse qualquer formação ou treinamento formal.
É Itabuna o maior palco para os artistas da música, que se apresentam com frequência nas centenas de barzinhos noturnos espalhados no centro e nos diversos bairros. É Itabuna o point dos botecos especializados, onde o cliente tem cadeira cativa; das cervejas artesanais de qualidade, produzidas pelos amigos ou conhecidos do dia a dia, gente nossa que faz acontecer sem firulas.
É a mais cosmopolita das cidades baianas. E não poderia ser diferente por ser uma cidade para onde convergiram pessoas de todas as nações, etnias e religiões, na mais perfeita harmonia. O judeu é o maior amigo do árabe; o negro, o branco e o amarelo são simples cores de uma paleta ou aquarela para que os artistas expressem seus sentimentos. Existem os dissonantes, paciência, estes também fazem parte da natureza humana.
*Radialista, jornalista e advogado