Por Ramiro Aquino*
Em conversa com uma amiga, a Margarida (Margô para os mais íntimos), lembrei-me de um artigo que escrevi há anos sobre o velho jardim da praça Olintho Leone, de tantos namoros, noivados e casamentos. Não o achei o artigo em meus arquivos, mas lembro bem do tema que o originou e vou tentar repeti-lo com algumas adequações.
Ahhh, o velho jardim, que já foi chamado nos velhos tempos de Jardim da Prefeitura, pois ali funcionava a Prefeitura Municipal e onde se iniciaram muitos namoros que terminaram em casamento. Poderia ser chamado também de Jardim do Itabuna Clube, um clube de certo modo mais popular (diante do Grapiúna, considerado da elite), mas um dos mais atuantes clubes sociais da cidade e onde hoje é o Banco do Brasil.
Às 22 horas em ponto “soltavam o homem nu”, pois era a hora das “moiçolas” da época se recolherem às suas casas e algumas atenderem à chamada para as festas domingueiras do Itabuna, enfrentar o porteiro Jacinto e que um dia, contam as más-línguas, um diretor disse em alto e bom som que teríamos as “domingueiras também às quintas-feiras”, como se fosse possível alterar o calendário semanal.
O dito jardim era mais bonito do que hoje e à época já tinha sido mais bonito ainda. Mas era conhecido por sua característica mais marcante. Onde hoje tem um ponto de ônibus havia um muro no qual se encostavam os mais ousados e o rio Cachoeira parecia mais largo, tinha até “praia”. De tanto rodarem, sob as vistas dos olhares masculinos, as moças terminaram por consumar alguns namoros e posteriores noivados e casamentos.
E eu quase fugi do assunto que deu título a este artigo. Por que “Jardim dos Amores”? É que por ali desfilaram as meninas Aquino, Benício, Dórea, Dória, Galvão, Hage/Hagge, Macedo, Marques, Maron, Midlej, Nascimento, Oliveira, Pereira, Rebouças, Sá, Sepúlveda, Soares, as indefectíveis Santos e Silva, Sodré, Suzart (em ordem alfabética para não causar ciúmes) e muitas outras, desde a mais tenra idade, no início da puberdade, até aos 16/18 anos. Ali conheceram os seus futuros consortes. Namoraram e casaram. Era bom demais.
Aliás, o título do artigo foi dado por um amigo, que namorou, noivou e casou depois de muitas rodadas pelo “Jardim dos Amores”, sempre aos domingos. Ele me contou que um dia já foi o que chamavam de “playboy” (hoje é apenas mais um pobre, neto de rico agricultor). Era um dos poucos que tinham carro e um certo dia, recém-chegado do Rio (onde estudavam os ricos da época), estava estacionado em frente à Sorveteria Bob´s e o seu carro impedia a passagem de um conhecido advogado e empresário rural no seu possante Aero Wyllis (o carro mais luxuoso do momento). Ele entrou no carro e deu passagem ao arrogante advogado e empresário, não sem antes ouvir um sonoro “Você sabe com quem está falando? Este carro tem 75 cavalos.” Ao qual prontamente respondeu: “75 não, tem 76. Um deles está no volante.”
O “Jardim dos Amores” é uma bela e acertada alcunha. Ali namorei e casei (casamento que já dura 47 anos), seguindo o exemplo de muitos. É claro que nem todos os casamentos deram certo, mas foram poucos os fracassos. As moças desfilavam pelo jardim, davam voltas e mais voltas, eram seguidas pelos rapazes, ou davam olhares furtivos para eles à beira da calçada. Depois algumas iam para o Itabuna Clube, umas delas acompanhadas dos pais e continuavam os “flertes” iniciados no jardim. Que o diga Wanderley Rodrigues, que só dançava no meio do salão, de … duro, bem no meio das coxas de sua parceira, até que o presidente Adélcio Benício o chamasse às falas na secretaria.
Tempo bom aquele, quando ainda vigoravam os inocentes olhares de cumplicidade, o mão-na-mão que durava um tempão para acontecer, os quase imperceptíveis beijos roubados, os acertos para as matinês dos cines Itabuna ou Plaza.
E não podemos esquecer que nos dias da semana a rapaziada ouvia os “causos” (alguns muito mentirosos) contados pelo fotógrafo Newton Caetano do Almada, mais conhecido por Maxwell, os mais velhos iam ao cinema ver os filmes de bang-bang, de terror ou os mais apimentados do cinema francês, já na época do Cine Marabá. Tempo bom, tempo bom. Íamos para casa de madrugada e não existia essa violência de hoje. Confiávamos no delegado Pedro Marques de Sá, que sabíamos que com ele podíamos contar mesmo nas altas horas da noite.
Dos acontecimentos daquela época lembro de um filme de vampiro que assisti no Cine Itabuna. O vampirão usava uma capa preta. Ao voltar para casa (morava na Monsenhor Moysés), sozinho, deparei-me na subida da rua com um guarda-noturno que pareceu-me exatamente igual ao vampiro do filme. Saltei como um gato para o outro lado da rua e disparei para minha casa.
Hoje os tempos são outros. Não existe mais a tranquilidade daquela época. Éramos felizes e nem sabíamos.
*Jornalista, radialista e cerimonialista.