O dia em que os números se transformaram em um rosto

Por Fernanda Oliveira

Nesta terça-feira (19), faleceu Robson Nascimento, vítima de Covid-19. A mídia local vem cobrindo com excelência o avanço do novo coronavírus na região cacaueira, e na Bahia, porém a noite de ontem causou um silêncio geral. Os números se transformaram em rosto. Robson era um colega de profissão da grande maioria da impressa, e quanto aos “novinhos” acredito que o conheciam também.

Trabalhou em vários jornais, inclusive no extinto jornal Agora onde pude conviver alguns anos com ele, e vou contar um pouco do Robson que poucos conheciam. Tinha um amor imenso pela família, e você mensura isso pois ele sempre falava dos filhos, da esposa, falava com pesar a história de seu pai, enfim, era o cara família.

Outra paixão era a fotografia. Aquela frase “cada mergulho é flash” cabe direitinho no seu perfil. Mas as suas fotos, além das normais que todos tiram, tinham uma peculiaridade. Não precisava ser um dia festivo, encontro com amigos, casamentos, nascimentos apenas. Era aquela foto que ele via um momento do cotidiano, como uma ida ao banco, o descanso do almoço enquanto espera a hora de ir trabalhar e está batendo uma prosa com o filho, enquanto assiste seu time jogar.

Robson, apesar do seu semblante sério, sisudo, era muito prestativo. Claro que não é porque a pessoa faleceu que só vai enaltecer as qualidades. Pisar no calo dele ou de alguém que ele gostava, era pra sair de baixo, como a maioria das pessoas fazem. E caso queira dar uma olhada nas redes sociais dele, verá a enorme lista de amigo que estão registrados, e ele ainda gostava de escrever poesias e postá-las junto com as fotos, uma deles é “nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”, de Cora Coralina.

Outra coisa que era receber os amigos e familiares em sua casa de praia. Passava horas na cozinha preparando tudo, ninguém chegava perto. Era notório a expressão de alegria com a casa cheia, e claro, era um prato cheio para fotos, uma característica forte do mineiro botafoguense que era.

As lembranças são muitas, as saudades que vai deixar serão maiores ainda, mas Robson de fato deixou sua marca e ficará por muito tempo na memória dos que gostavam dele. E fica o alerta para os cuidados com a doença, ficar em casa ao máximo e sair sempre de máscara, pois a Covid-19 não escolhe quem contrai a doença.