O desempenho de tarefas por mulheres e homens tem uma conta historicamente desigual, e isso não é diferente no segmento jurídico. A questão das tarefas pessoais e profissionais ganha ainda mais destaque nesse cenário de quarentena, já que o home office imposto pela pandemia dificulta a separação dos papeis. Para Isabela Coelho, líder do Comitê de Equidade do Cescon Barrieu, um ponto-chave nessa discussão é como a rotina do trabalho remoto no setor jurídico é retratada.
“As mulheres compõem, em grande parte, mais da metade das carreiras jurídicas. Mas durante a pandemia -e isso também já acontecia antes dela- as reportagens sobre o setor trouxeram, em sua maioria, o ponto de vista dos homens sob tudo o que tem sido enfrentado”, explica. Enquanto elas equilibram os pratinhos em jornada tripla, eles conseguem ter mais disponibilidade para lives e reuniões online.
Esse e outros pontos foram abordados por profissionais da área jurídica em evento promovido pelo Cescon Barrieu para seus colaboradores. A proposta foi justamente para debater as questões enfrentadas por cada um durante o home office imposto pela pandemia.
Um dos aspectos enfatizado por Helena Abdo, sócia em Contencioso e Arbitragem do Cescon Barrieu, foi a necessidade de se olhar para a situação das mulheres advogadas na quarentena, considerando que 49,7% dos profissionais inscritos na OAB são do sexo feminino.
“Segundo dados do IBGE, mulheres brasileiras ocupam 73% a mais do tempo ocupado por homens com tarefas domésticas. Além disso, existe uma demanda maior dos filhos pela figura materna, seja para atender suas questões emocionais, seja para organizar e supervisionar seus estudos. No início, me senti culpada por não estar sendo tão produtiva quanto meus colegas do sexo masculino: via todo mundo participar de lives e webinars enquanto eu lutava madrugada adentro para dar conta do trabalho interno e externo acumulados. Hoje já não me sinto assim. Não sou uma heroína, mas também não quero ser uma mártir”.
A advogada ainda fez outras colocações relevantes. “Percebi que sou produtiva de uma maneira diferente. Embora não consiga me projetar tanto no ambiente externo, sinto que evoluí e me adaptei: estou muito mais criativa e mais rápida.”
Essa mudança de gatilho é importante sob diversos aspectos. Estudos mostram que muitas mulheres estão sofrendo muito mais com a falta de separação do trabalho e a casa, gerando muita ansiedade e angústia. Sem contar a carga mental e psicológica pelo acúmulo de atividades para as quais as mulheres acabam sendo mais procuradas. Isso explica, em boa parte, o protagonismo dos homens em lives e webinars.