Filhuxos, encolhi as ameaças!

Por Carlos Brickmann

Talvez sejam os problemas judiciais, talvez a prisão de alguns dos devotos mais radicais, talvez a apreensão de arquivos virtuais – mas, seja qual for o motivo, o presidente Bolsonaro está em nova fase: a de Mito Paz e Amor. O novo ministro da Educação que escolheu pode ser bom ou ruim, mas é uma pessoa normal, que jamais chamaria a mãe de um crítico de “égua sarnenta”. Ministros seus fizeram gestos de paz a Supremo e Congresso, e – surpresa! – Bolsonaro até se mostrou solidário com os 50 mil mortos do coronavírus, e pediu ao presidente da Embratur, Gilson Machado, que tocasse na sanfona a belíssima Ave Maria, de Gounod. Está bem, Machado está longe de ser um Dominguinhos, não tem a voz de um Caruso, mas valeu pela homenagem.

Com Bolsonaro nunca se sabe, mas aparentemente optou pela suspensão das ameaças. Aproximou-se do Centrão, que prefere um ótimo acordo a uma boa briga, mantém-se mais afastado dos devotos do cercadinho, onde costumava fazer declarações explosivas. E, vários dias depois da prisão de Fabrício Queiroz, nada comentou – nem sobre o preso, nem sobre Frederick Wassef, ao mesmo tempo advogado de Flávio Bolsonaro, de Queiroz e do próprio Bolsonaro. Carluxo, o mais belicoso dos filhos, retornou às atividades na Câmara Municipal do Rio, longe do Planalto.

Os devotos continuam ferozes, pedindo briga, mas, sem apoio presidencial, até quando?

Conciliação

Os novos ministros são mais conciliadores que os anteriores. Fábio Farias, das Comunicações, tem ótimo relacionamento no Congresso. Carlos Alberto Decotelli, da Educação, deixou boa impressão no meio político, dos tempos em que esteve na presidência do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – embora ainda não tenha explicado quem foi o responsável por uma concorrência que o Tribunal de Contas anulou, na qual seriam comprados vários computadores para cada aluno.

E, além de ter deixado boa impressão, tem outras vantagens: não é Weintraub nem olavista.

Um bom momento

A corda foi muito esticada, mas talvez ainda seja possível o retorno – se os filhos colaborarem, se o próprio presidente se contiver, se os inquéritos e ações judiciais não puserem seu mandato em risco. E há alguns pontos, neste momento, em favor de Bolsonaro: embora a pesquisa Datafolha indique que ampla maioria acha que ele sabia onde Queiroz estava, isso não abalou sua popularidade. Houve uma ligeira queda, de um ponto percentual, dentro da margem de erro. E, por esses dias, o presidente inaugurou o primeiro reservatório no Ceará que recebe água da transposição do rio São Francisco – obra que se arrastava desde D. Pedro 2º. Justo no Ceará, comandado pela família do adversário Ciro Gomes. Isso deve elevar seu índice nas pesquisas.

Uma vitória

O senador Flávio Bolsonaro ganhou no Tribunal de Justiça do Rio e terá direito a foro privilegiado, por ser deputado estadual na época do episódio das rachadinhas. A decisão permite que o julgamento ocorra em segunda instância, pulando a etapa do juiz único. Talvez essa vitória, que o afasta do juiz Flávio Itabaiana, leve também à anulação da prisão preventiva, ordenada pelo juiz, no mesmo processo, de Fabrício Queiroz. Mas a questão deve ser observada com cautela: o Supremo já decidiu várias vezes que, ao deixar o cargo que lhe dá direito ao foro especial, o cidadão passa a ser julgado em primeira instância (o que acontece, por exemplo, com o ex-presidente Michel Temer). Há uma diferença entre ambos: Temer não mais ocupa cargo público e Flávio passou de deputado estadual a senador, sendo que senador também tem foro especial. Mas o foro vale para problemas ocorridos em função do mandato. O caso de Flávio ocorreu em outro mandato. Que dirá o STF?

A marcha da gripezinha

Em Brasília, no dia 25 de maio, com tudo fechado, houve 6.930 casos de Covid, com 114 mortes. No dia 26 houve o afrouxamento das restrições, com abertura do comércio. Um mês depois, 24 de junho, houve 37.254 casos, com 495 mortes. As associações de comerciantes haviam prometido erguer um hospital de campanha com 300 leitos de UTI, o impacto previsível. O impacto foi pouco maior, porém os lojistas não cumpriram a promessa. No dia 25 de junho, havia 95 pessoas esperando lugar na UTI. Mas o problema não é apenas de promessas descumpridas: Israel, que havia levantado boa parte das restrições, fechou-se de novo; Portugal também; e, nos EUA, o número de casos e de mortes bateu recordes neste fim de semana.

O grande reinício

Se a questão do emprego é difícil para todos, imagine quem tem mais de 50 anos e já era discriminado antes da pandemia. Pois é: um grande evento de trabalho e reinvenção profissional para os maiores de 50 anos vai-se realizar de 6 a 9 de julho. São mais de 50 palestras ao vivo pelo Instagram, na Kaleydos.