Walmir Rosário*
Estou decidido! Nesta próxima eleição concorrerei a um cargo político! Ainda não sei qual, mas irei ao encontro das urnas, esperando ser bem votado e alcançar a vitória e ocupar um lugar entre as tantas pessoas sabidas e cheia de amigos. É, são os amigos os principais responsáveis pelo sucesso eleitoral, e mais, depois de eleito você estará sempre rodeado deles. Nunca mais estará só.
Dia desses estava aqui em casa matutando sobre concorrer a um cargo eletivo e a presença constante dos amigos me despertou a atenção. É que lembrei-me do ex-presidente Collor de Melo – ainda no exercício do mandato – faz um chamamento importante aos milhares de amigos que construiu durante sua campanha e no exercício do cargo: “Não me deixem só”, frase que ficou na história.
Acredito, eu, que, quando presidente, Collor tenha ficado muito solitário com as obrigações inerentes ao cargo de chefe maior de um país continental como o Brasil, separando-se dos milhares de amigos. Deve ter sido a tal “liturgia do cargo”, que o obriga a estar em constante movimento, recebendo pessoas para tratar de assuntos dos mais diversos, afinal, o Brasil é um dos países mais importantes do mundo.
De logo, vou aqui confessando que minhas pretensões não chegam a tanto, não quero responsabilidade de tamanha monta, que também me obrigará a ficar longe dos amigos que tenho e da grande legião que se incorporará a eles. Prefiro coisa mais modesta, como vereador, vice-prefeito, ou logo prefeito, que a mim parece ser talhado para meu intento, conforme tenho visto ao longo dos anos.
Nestes anos de bom observador, tenho notado que esses cargos têm algo de especial para colecionar os amigos, mas não simples amigos, daqueles que preferimos chamar de conhecidos. Estou me referindo aos amigos do peito, aqueles que estarão conosco em qualquer momento, nos bons e maus momentos como costumamos dizer. É o chamado amigo de verdade!
Como uma pessoa sem mandato, meus aniversários não têm a mesma graça das comemorações suntuosas de um político eleito para um cargo. Pra começo de conversa, não terei condições de convidar todos para os festejos, já que me falta cacife para bancar os comes e bebes. Se convidá-los dizendo que será em estilo americano, em que cada um levará a carne para o churrasco e a cerveja, sei que tomaremos Glacial quente e asinha de frango, crua, pois até o carvão esquecerão de levar.
E digo isso com toda a sabedoria, inteligência e poder de observação que Deus me deu. Não tenho como esquecer dessas festas módicas, em que até a boa cachaça é regrada, já que levada em frascos de bolso, bem escondidos. Diferentemente das festas dos políticos, em que sobram bebidas das mais variadas marcas e comidas com toque de chefs das mais alta gastronomia.
Como poderei esquecer dos outdoors espalhados pela cidade tecendo loas às qualidades do aniversariante, com exaltações ao seu passado brilhante e seu futuro que será por certo glorioso? E lá estará a assinatura em letras destacadas: “uma singela homenagem da legião de seus amigos”. Confesso que jamais testemunhei qualquer plaquinha ou cartaz tecendo loas aos amigos comuns.
E não tem a mínima condição que isso aconteça. Imagine aquele amigo do dia a dia, que se reúne num boteco qualquer da cidade para tomar uma cachacinha, uma batida, com a conta dividida e paga centavo por centavo de forma coletiva? Como ressaltar as qualidades de pão-durismo e sovinice de um amigo? Se ufana a prodigalidade, o amigo que concede benesses, o mão-aberta, o que pode esbanjar.
É uma pena que aqui em Canavieiras ainda não chegou a cultura do outdoors para elogiar os amigos na passagem do seu aniversário, a exemplo de Itabuna, Ilhéus, Salvador e outras cidades grandes. Mas confesso que vou me esforçar para difundir esse tipo de comportamento, que mostra a grandeza dos verdadeiros laços de amizade, aqueles que tornam verdadeiramente, o homem mais feliz.
Eu mereço um tratamento dessa qualidade, afinal, sempre fui amigo dos políticos, principalmente dos que ocupam mandados em todas as esferas do serviço público, contribuindo para o engrandecimento deles. Pago meus impostos em dia para fazer frente aos seus gastos – salários, penduricalhos dos mais extravagantes –, sem contar as sinecuras para os mais chegados.
Infelizmente, no meu próximo aniversário passarei na mais penúria e indigência, recebendo, no muito, um feliz aniversário, daqueles lembrados nas páginas das redes sociais (facebook e congêneres), só e tão somente só. Mas o ano de 2020 vem aí e espero me eleger, para em 2021 construir minha legião de amigos, receber uma “festa de arromba” – como dizíamos nos tempos da Jovem Guarda – de presente.
Despretensiosamente, que fique bem claro!
*Radialista, jornalista e advogado.