Por Walmir Rosário
É verdade! A cada dia, apesar das notícias fúnebres e pouco alvissareiras, estamos retornando à normalidade, só que desta vez com hábitos e costumes diferenciados, com ênfase na segurança à saúde. E não era pra menos, cansados que estamos dessa vida pachorrenta, dentro de casa, olhando para as paredes quando nos cansa as vistas de smartfones, notebooks e livros.
Devagar e meio desconfiado, abro o portão e observo que há vida lá fora, pessoas caminhando, outras de bicicletas, motos e carros, todas mascaradas para seguirem à risca os decretos. Nunca os decretos tiveram tanto prestígio e ninguém, sequer, fala mais na força das leis. Deve ser o conhecido sinal dos tempos, descrito exaustivamente pelos profetas de ocasião nas previsões de fim do mundo.
E por falar em fim do mundo, anos atrás me asseguraram que ele estaria próximo, que não falharia e não sobraria uma só viva alma para contar a história, já que não apareceria um Noé para catalogar os bichos e colocá-los numa arca. Pelo visto, uma empreitada desse nível deveria sair caríssima, e com o fim dos incentivos governamentais não teria iniciativa privada que arcasse com os custos.
Pelo que um amigo meu bem esclarecido nessas coisas espirituais me contou, desta vez a humanidade não teria perdão e levaria junto todos os animais que habitassem em cima da terra. Nem mesmo as baratas, que pouco se importam com a explosão de uma bomba atômica, seriam exterminadas. Tudo isso em nome dos pecados cometidos pela desenfreada humanidade.
Para começo de conversa, a explosão terrena seria silenciosa e começaria pelos computadores, invento que desafia o homem e as coisas divinas. Essas máquinas que se dizem inteligentes não conseguiriam, sequer, saber informar em que dia e horários estaríamos e provocaria uma catástrofe em cadeia. Eram aviões caindo, navios afundando, carros batendo e o mundo ardendo em chamas.
Me apaguei com meus santos de confiança e passei o mês inteiro rezando, pedindo a Deus e Nossa Senhora que nos evitasse desse segundo inferno de Dante. Até hoje agradeço por terem me atendido a salvado a vida de meus semelhantes. Mas acredito que alguma coisa deu errado, pois quando menos se esperava veio essa doença no formato de vírus para nos exterminar. Agora pra valer.
Não estou aqui cobrando nada de ninguém, mas devo revelar que neste meu período de quarentena voltei meus olhos aos céus e intercedi ao Altíssimo por todos nós ganhássemos mais uns anos de prorrogação. E não é que fui atendido de novo! Ganhei não só essa graça, como uns quilinhos a mais pela inércia em minhas atividades esportivas e sociais.
Devo aparentar – de forma sucinta – o resultado dessa quarentena no vestuário, tando que chamou a atenção do jornalista Maurício Maron – amigo de tantas batalhas –, que apiedado me enviou por whatsapp uma informação de autoajuda. No título mensagem, “Uesc oferece aulas de Jiu-Jitsu online”, que me fez ler avidamente todo o texto da notícia, prestando toda a atenção possível no conteúdo.
De início, até que me animei com essa possibilidade de praticar essa arte marcial japonesa pelo computador, sem receio de contato com outro desportista que me aplicasse golpes como mão de vaca, quem sabe uma chave de rim, me levando ao tatame. Passada a euforia, recomposto o raciocínio, achei por bem não me aventurar nessa seara alheia, pois considero finda minhas incursões nessa área, tida e havida como de distinção e louvor.
Hoje, devido ao adiantado da idade, prefiro exercícios mais amenos, como a caminhada de casa aos bares, onde reponho as energias consumidas no percurso com a ajuda do levantamento de copo. Vai que, mesmo sozinho, tento acompanhar o movimento do professor ao aplicar uma baiana e me estatelo ao chão, terei que ser atendido com o auxílio do Samu. Agradeço, Maurício, pela sua caridosa intenção, mas não dá certo.
Como não disponho da pombinha de Noé para me trazer um ramo de oliveira como prova de vida, continuarei minhas visitas diárias ao portão de casa para observar o movimento lá fora. Caso a vida ganhe mais vida, tomarei coragem para ir ao banco fazer minha prova de vida e demonstrar à Previdência que deverei ser mantido na folha de benefícios por ainda um bom tempo.
Nessa viagem ao banco, com certeza tomarei todas as precauções para agregar outras atividades acessórias, racionalizando as energias. Caso seja numa quinta-feira, aproveitarei para participar de uma assembleia do Clube dos Rolas Cansadas; caso o dia escolhido seja um sábado, nada mal desviar o percurso de retorno em direção à Confraria d’O Berimbau, para festejar o reencontro. Com toda a segurança, tenham certeza.