Por Walmir Rosário*
Bem que esses estudiosos do comportamento humano afirmam que o homem (no sentido mais amplo) é um ser gregário, que prefere viver em sociedade, bandos, ou outros tipos de agrupamentos. A cada dia esse sentido se torna mais amplo, após o aparecimento das novas tecnologias da telemática, que instituiu os grupos de redes sociais, como no Facebook, WhatsApp, Telegram, dentre outros.
Dizem que se soltarem um homem no meio da floresta ou num lugar distante qualquer, um dia, menos dia, a tendência é que ele se encontre com outros homens e comece a fazer parte desse agrupamento. E digo mais, além desse agrupamento como um todo, fará parte de diversos grupos de interesse, em particular, e, ainda por cima, dos grupos de zap dos mais variados temas.
E não há mal algum nisso, pois além do chamado interesse profissional, financeiro, familiar, cresce bastante as chamadas rodas de amigos por qualquer pretexto, por mais simples e tênue que possa parecer. São os temas de pequena consistência, sutis, débil, para alguns, mas bem representativos para outros, ligados a jogos, religião, fãs de determinados artistas e por aí afora.
São coisas de foro íntimo que determinam esse grau de importância. Eu mesmo participo de alguns grupos de conversa e interesses, desde que não ultrapassem a boa e educada convivência social. E isso não é coisa da modernidade, pois desde que temos notícia em que Adão ainda habitava nesta terra, tinha lá suas pessoas mais chegadas, com as quais convivia de forma mais amiúde.
Confesso que antes do aparecimento do zap, nos entendíamos pelo telefone, mandávamos telegramas para informar sobre notícias mais urgentes e até os famosos recados. Pra mim, isso equivale ao suprirmos nossas necessidades pessoais da emoção, como comprar em determinada loja, torcer pelo time de preferência, frequentar locais mais aconchegantes, a exemplo de bares.
Quando viajo, costumo a ficar perdido no hotel, sem saber para onde vou passar parte do tempo que tenho disponível para o ócio. Uma solução infalível é perguntar ao recepcionista, maitre, garçom, onde existe um barzinho para tomar uma cerveja, um aperitivo e bons tira-gostos, e quem sabe bater um bom papo com os novos amigos que por ventura aparecerão. Isso não falha, é tiro e queda.
Melhor ainda é quando você é levado e apresentado por um amigo que faz parte de um grupo, quiçá uma confraria, sejam de interesses meramente etílicos ou gastronômicos. Se junto, então, nada mais saudável. Imediatamente você já se torna amigo “de infância” daquela turma, com direito a convites posteriores, do tipo rega bofe imperdível, com tudo que tem direito.
Semana passada passei por uma experiência dessas bastante positiva em Ponta Grossa, no Paraná. E olha que era um recanto que já tinha aparecido antes da pandemia. Melhor agora, com a maior participação dos presentes, justamente numa sexta-feira, dia bastante apropriado para colocar todos esses desejos em ordem. O bate-papo, a bebida, o tira-gosto, não importa em que ordem.
Levado pelo genro Gilberto ao Bar do Alceu, encontrei uma confraria nos mesmo moldes das que tenho o privilégio de conviver em Itabuna, Ilhéus e Canavieiras, na Bahia. Aos poucos, os confrades vão chegando e tomando seus postos junto ao balcão, na mesa de sinuca. Assim que cada um vai chegando, abre o porta-malas, tira pacotes com carnes, saladas, maionese e carvão para alimentar a churrasqueira.
Cada qual na sua especialidade: um acende o fogo, outro arruma a mesa, todos pedem o aperitivo de seu gosto ao “seu” Alceu, que já colocou as cervejas para gelar, conforme manda o paladar da confraria. Como se estivesse no seu esporte preferido, a pescaria, Alceu, pacientemente, vai satisfazendo os gostos e desejos dos clientes, administrando as vontades, como quem não quer nada.
Enquanto converso com cada um deles, observo o que fala e como fala cada um a respeito dos mais variados temas. Satisfaço a curiosidade deles sobre mim e faço o mesmo sobre eles. Aos poucos, Chico, Marcão, Ivan e sua esposa Priscila, Gilberto, Tony, Tiriva, Alceu e quem mais chegue é integrado ao grupo e passa a desfrutar dos mesmos privilégios dos confrades.
Mas não pensem os senhores que o ingresso na confraria é feito de modo automático. Nada disso. Se chega sozinho, é analisado – na surdina – por vários dias sobre sua procedência, seus costumes e preferências. Caso se enquadre como aquele ser gregário da Confraria do Alceu, passa a ser informado do calendário de eventos internos e externos e ganha o direito de participar da lista do WhatsApp. Aí é pra valer.
Talvez por morar longe e não ter a frequência desejada, não tive o privilégio de ser inserido em tão seleto grupo de WhatsApp, mas confesso que comi e bebi como se bispo fosse, com todas as regalias. Só fiz uma desfeita, mas foi por justa causa. Ao ser convidado para uma rodada de meia dúzia de cerveja em outro bar próximo, declinei do convite. Afinal, tudo tem sua primeira vez e recusei a velha e boa saideira. Espero que não tenham me interpretado mal…
*Radialista, jornalista e advogado