Por Walmir Rosário*
A arrogância e prepotência própria dos coronéis da política interiorana do início do século passado se incrustaram em Geraldo Simões após sua permanência no poder. Não sei bem como qual nome científico mais adequado para isso, mas posso assegurar que tal prática é maléfica ao comportamento e ao perfil dos políticos, e pior ainda para o povo, a sociedade, a Nação.
Determinados membros do Partido dos Trabalhadores, cuja proposta inicial era a implantação da ética e moralidade na política brasileira, se desviaram de seus propósitos, abandonaram os dogmas contidos nos seus estatutos, copiaram, de forma desavergonhada, as práticas que abominavam. Passaram de guardiões da moralidade a praticantes das mesmas mazelas por eles denunciadas, só que feitas com mais intensidade.
Na economia, essa voracidade famélica poderia ser explicada através do princípio da demanda reprimida, transpostas para o campo da ética por Geraldo Simões durante a sua primeira administração da Prefeitura de Itabuna. Os “meninos” que promoviam badernas para reclamar, apedrejando ônibus, entupindo fechaduras com cola rápida e massa plástica, se mudaram para os palacetes do Góes Calmon. Em volta das piscinas e whisky on the rocks as análises passaram a ser vistas por outro prisma, naturalmente de forma conservadora, mas confortável, e a bordo de carros luxuosos, os New Civic de hoje.
Aconselhados pela classe conservadora e pelos efeitos etílicos do mais puro malte das montanhas escocesas – com o reforço de uma legítima vodca russa –, a república sindicalista foi revestida de luxo e riqueza, rasgando os escritos de Karl Marx e condenando a mais valia ao fogo do inferno. Nada como os encantos da burguesia, principalmente quando se chega à condição de new rich.
Aos poucos, os companheiros das greves da Ceplac foram sendo defenestrados, talvez por não saberem como se comportar nas mansões, e os operários de campo, auxiliares de serviços gerais, dentre outros piqueteiros, foram sendo substituídos pelo todo-poderoso Geraldo Simões pelos descendentes da fina-flor da cacauicultura. Pela mão providencial de Martinelli, foi introduzido aos salões da nobreza, deixando de fora a plebe ignara.
Do alto da montanha, não dava mais para mirar, como antigamente, os velhos companheiros, estes perifericamente afastados. Os tempos são outros. Ao invés da força bruta dos piquetes, Geraldo Simões, o então prefeito, passou a se utilizar das artimanhas do poder dominante. Aos poucos, os Giltons, Veridianos, foram sendo substituídos pelos espertos doutores, ávidos para continuar encastelados no poder.
Mesmo conhecendo a passada derrota nas urnas, Geraldo foi incapaz de fazer uma reflexão para saber onde errou, fazer um mea culpa, reunir antigos colaboradores, refazer seu exército. Mas não, preferiu os novos amigos, estes com mais experiência de vida e palavra fácil, capazes de massagear o ego do chefe com elogios fáceis e tapinhas nas costas. Não há quem resista!
E mais cabeças foram sendo cortadas. O colégio de cardeais petista passou a ostentar nomes conhecidos da velha oligarquia antes conhecida e combatida, e assumiram cargos importantes. Rei morto, rei posto, e Nelson Simões, Eliezar Correia, Everaldo Anunciação, Josias Gomes, tiveram seus nomes lançados no rol dos degredados. Sem qualquer explicação, deixaram de ser considerados da turma de “minha pedinha”.
Generais de outros exércitos tiveram de despir os velhos pijamas listrados para integrar o staff geraldino. A cada reforço recrutado em Salvador e Brasília, mais uma cabeça interiorana rolava. E os reflexos foram sendo sentidos nas bases, notadamente entre os ceplaqueanos, responsáveis pela rápida ascensão do técnico agrícola em político influente e, consequentemente, uma das mais promissoras fortunas da Bahia.
Relegados ao degredo pelo Politiburo de Geraldo Simões, aos poucos seus desafetos foram sendo reabilitados. Ao assumir a Presidência do PT em Ilhéus, Eliezer Correia foi responsável pelo crescimento do partido. Everaldo Anunciação passou a ser um dos homens fortes do partido em Salvador. Nelson Simões braço-direito do governador Jaques Wagner e Rui Costa, e por aí afora…
O desafeto maior de Geraldo, foi, sem dúvida, o deputado federal Josias Gomes, que passou a trabalhar no projeto de implantação do PT na Bahia e despertou um sentimento de inveja e ciúmes ao vislumbrar uma ameaça ao seu projeto político individualista. Mesmo fora da Presidência estadual do PT, Josias continuou sendo o homem de mais prestígio entre lideranças e militância no estado.
Ao desprezar todos os militantes petistas da Bahia, Geraldo Simões lançou seu último empreendimento da política coronelista, ao impor, na eleição municipal de 2008, sua mulher Juçara Feitosa como candidata a prefeita de Itabuna. Pela primeira vez os petistas se rebelaram e não seguiram a orientação partidária e o PT votou contra o PT, apesar da questão fechada, contrariando a cartilha do partido.
Por último, Geraldo pensou que desafiaria a maioria do povo, inclusive o governador do Estado, que se posicionou contra a candidatura de Juçara Feitosa, avaliando que voltaria a ganhar a eleição. Errou por prepotência, prejudicou o PT por arrogância. Manda a lei natural que cada um pague por seus pecados, como diz o ditado… “a justiça tarda mais não falha”.
E assim, assistindo a reabilitação e o crescimento dos desafetos, Geraldo Simões teve que devolver “sua Secretaria da Agricultura” para o governador e aturar seu ex-assessor parlamentar na Assembleia Legislativa, José Sérgio Gabrielli, ser nomeado presidente da Petrobras, e lançado candidato ao Senado na vaga pretendida por “minha Pedinha”. Sem dúvida, o tiro de misericórdia. Ao derrotar o PT, Geraldo também foi atingido e até hoje não se aprumou.
*Radialista, jornalista e advogado