Chocolate gourmet do Sul da Bahia é destaque no mercado regional e no exterior

Por Fernanda Oliveira e kaline Ribeiro

Empresas de chocolate gourmet crescem aumentando emprego e renda na região sul da Bahia

O mercado de chocolates tem apresentado significativas mudanças nos últimos anos, e o consumidor, que tem buscado cada vez mais produtos sofisticados e de alta qualidade, tem contribuído para que os chocolates artesanais ou mesmo gourmet, ocupem o centro das atenções, o que antes era cadeira cativa do tradicional chocolate industrializado em larga escala.

Em cidades como Itabuna e Ilhéus, sul da Bahia, berço da cacauicultura, empresários e fazendeiros estão investindo na produção deste tipo de chocolate, seja chamado de fino, artesanal ou gourmet, e com isso, o produto tem ganhado destaque no cenário estadual, nacional e no exterior.

O chocolate gourmet é um produto de alto valor agregado, produzido com ingredientes de alta qualidade, por um profissional especializado e bastante habilidoso, e que é finalizado com uma estética impecável. Uma iniciativa de sucesso que tem sua origem em Itabuna é o Chocolate Benevides. Tudo começou quando Leilane Benevides, que trabalha diretamente com produtores por meio do Banco do Nordeste, começou a se questionar o motivo deles não trabalharem com o cacau fino – técnica que exige mais cuidados desde a colheita até a fermentação. Mas logo começou a desvendar esse mistério quando se interessou em cursar uma pós-graduação em Gestão em Negócios de Cacau e Chocolate, na Faculdade de Ilhéus, unindo o útil ao agradável, já que seu trabalho exigia uma especialização, mas também queria estudar algo que lhe agradasse.

“A partir daí comprei uma máquina indiana que transforma a amêndoa em chocolate e passei a comprar direto do produtor”. E não demorou para ela lançar o Chocolate Benevides, que completou 3 anos em julho do ano passado, justamente no dia do Festival do Chocolat de Ilhéus. “Foi uma loucura, pois em pouquíssimo tempo tive que entrar em contato com uma agência, criar as embalagens, encomendá-las na gráfica, produzir o chocolate que iria expor na feira, olha que foram 20 sabores diferentes de chocolate já que esse era meu diferencial, afinal, chocolate 40, 55 e 70% todos tem”.

E completa: “O sucesso foi tão grande que de lá fui convidada para expor no Salon du Chocolat, na França três meses depois da feira em Ilhéus e, também, fui participar da Feira do Festival do Chocolat de São Paulo no ano seguinte, em 2019, e se não fosse essa pandemia teríamos ido para muitas outras cidades”. Leilane logo depois abriu uma loja num Resort em Porto Seguro que fez muito sucesso, porém tinha o problema de que só hóspedes poderiam comprar na loja e com isso muita reclamação pois com o sucesso do produto, muita gente queria comprar, porém não podia, pois o acesso a loja era exclusivo dos hóspedes do resort. Então resolvemos abrir uma loja no Centro de Porto Seguro em março desse ano e na Páscoa fechamos a loja do resort. “Lá virou nosso centro de distribuição pois atendemos hotéis, resort não só de Porto como de Arraial D’Ajuda, e com isso, 90% do que produzimos é destinado para esta demanda”.

Hoje, Leilane já conta com um novo espaço onde montou sua fábrica, loja e espaço para eventos de degustação. “Tudo isso tem proporcionado duplicar a produção, ampliar minha cartela de clientes e almejar novos horizontes para expandir ainda mais o mercado”, conta. Inclusive, aumentou o número de funcionários, adquiriu outras máquinas, sendo outra para duplicar a produção de chocolate, e uma de embalagens, para acelerar a finalização do produto.

Matéria-Prima

O cuidado e a seleção de matéria-prima de qualidade contribuem para a qualidade dos produtos Benevides. “Nossa empresa prima pela qualidade, começando em não comprar matéria-prima da moageira, mas sim direto da mão do produtor de cacau fino, sem intermediários, valorizando o produtor local e com uma remuneração justa”.

Com o processo de colheita e fermentação também é preciso muito cuidado. “A fermentação é um processo mais longo, bem como a secagem é controlada. É preciso ter um controle da acidez, da adstringência, pois no processo de fermentação ele vai dominar a temperatura e entender cada fase, fazendo com que o cacau tenha aromas e sabores, sem ser adstringente, nem amargo e notas ruins”. Ela lembra que sempre faz uso do método “Bean to bar” – “do grão a barra”, utilizado pelo produtor de cacau fino. “São cuidados específicos que começam na colheita, sem uso de podão, com todo cuidado para que a casca não seja “ferida”, já que isso inicia precocemente a fermentação. Além disso, os frutos são colhidos maduros, sem pragas e doenças. Esse é o método do bean to bar”.

Outro ponto importante que a empresária faz questão valorizar são as frutas regionais e nacionais como a jaca, cupuaçu, coco, banana, abacaxi, manga, e as castanhas brasileiras, como a castanha de caju e do Pará, e o próximo passo é adicionar ao leque de opções chocolate com o café que é produzido na Chapada, que vem tendo bastante reconhecimento, inclusive no exterior.

Projetos Futuros

Como bem se sabe, a pandemia deu uma freada em muita coisa, mas os planos futuros de Leilane são desafiadores. “Quero participar de premiações internacionais, expandir o mercado local e nacional e, claro, exportação também, pois temos o apoio importante de órgãos tanto da esfera da União como do Estado e, claro, do município, como a FIEB que nos dá toda consultoria dos passos que devemos tomar, porém seguros. Recentemente fiz o curso Empretec do Sebrae que fez com que olhasse a minha empresa de outros ângulos, e com isso, despertou oportunidades que antes, por estar muito focada no trabalho, não conseguia enxergar. “E agora o objetivo é planejar bem os próximos passos e fazer com o meu produto chegue a mais pessoas”, finalizou Leilane.

ChOr

Outra empresa que vem causando burburinho no setor é a marca ChOr, que tem sua empresa sediada na vizinha cidade de Ilhéus. A ChOr surgiu em 2013 a partir da iniciativa do casal Luana e Marco Lessa. Eles tinham o desejo de criar uma marca de chocolate fazendo uso de matéria-prima de qualidade: Cacau do Sul da Bahia e amêndoas de cacau fino. Hoje, empresa já trabalha com grande produção disponibilizando seus chocolates em quase Brasil, mantendo, claro, toda a qualidade de um produto artesanal nos mais altos padrões de qualidade começando pela compra direta do fazendeiro que trabalha com cacau fino.

“Sou neta de cacauicultor, nascida em Ilhéus. Publicitária, trabalhei 15 anos em agência de publicidade até que aos 30 anos resolvi buscar o meu propósito de vida. Fiz o Empretec promovido pelo Sebrae e lá tive a certeza que queria ser empreendedora. Passei o ano de 2012 estudando como fazer chocolate. Finalmente em 2013 abrir com o meu marido, Marco Lessa, a ChOr”, lembra Luana Lessa.

Como resultado desse investimento não só financeiro, mas em estudos e de muita dedicação, vários prêmios já foram conquistados, além da expansão dos negócios com pontos de vendas na Bahia (Ilhéus, Itabuna, Itacaré, Barra Grande, Salvador, Cruz das Almas, Camaçari, Vitória da Conquista, Alagoinhas, Valença e Porto Seguro) e outros estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Aracaju, Maceió e Fortaleza). Um canal para compras online também foi disponibilizado: www.choc.store.

“Em 2017, no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, fiquei entre as quatro mulheres premiadas da região sul da Bahia, e em 2020, nosso 44% cacau ao leite, São Jorge dos Ilhéus, foi eleito pela Revista Prazeres das Mesas como um dos 10 melhores chocolates do Brasil”.

Ao ser questionada sobre o que ela vislumbra para a produção de chocolates finos na região, Luana afirmou: “Percebo que estamos no caminho certo. A Bahia que foi no passado a maior produtora de cacau do Mundo e depois teve suas plantações de Cacau devastadas pela Vassoura de Bruxa, há uma década com muitas iniciativas na verticalização do cacau está conseguindo se reinventar, tanto na produção de um excelente chocolate, como na diversificação de produtos extraídos do cacau, a exemplo: mel de cacau, chá com a casca do cacau, nibs com especiarias, até cachaça e vinagre, é emocionante assistir essa transformação na nossa Região”.

Outra conquista veio recente, no final de junho, conta Luana, quando o chocolate 55% cacau ao leite, Bahia Terra da Felicidade, foi eleito pela AVPA em Paris, um dos três melhores do Mundo. “A AVPA também premiou através de um diploma gourmet os nossos 77% Cacau Oro Negro e o nosso mais intenso, 88% Cacau Bahia de Todos os Santos”, completa.

Sonhos

E os sonhos não param por aí! Desde 2016 Luana participa do programa APEX, iniciado com consultorias e preparações para participar de rodadas de negócios através de missões em eventos especializados. Em 2018, por exemplo, foi ao Aladi, no Peru, receber diversos feedbacks importantes para preparar seu produto para exportação.

“Atualmente, estou participando de uma mentoria oferecida pela Fieb e Sebrae BA para tomada de decisões mais assertivas. Então, participando desta mentoria, somando a qualidade do

meu chocolate e a este prêmio que recebemos da França, tenho muita convicção para o sucesso deste projeto que sonhamos em internacionalizar a ChOr”.