Por Walmir Rosário*
Na madrugada de sexta-feira para o sábado (5-6 de fevereiro) vândalos destruíram um monumento maçônico no trevo da BR-101, que dá acesso à cidade de Camacan. A edificação, erigida em homenagem ao cinquentenário da Loja Maçônica Mahachoan, tinha, ainda, a finalidade de destacar a presença desta sublime instituição em Camacan.
Quando citamos que o monumento foi destruído por vândalos, é porque o crime se encontra em investigação por parte das polícias civil e militar, que por certo deverão chegar aos autores materiais e intelectuais do mau feito. Uma nova obra será implantada no local, desta feita com equipamentos de segurança, com vistas à preservação.
Mesmo sem as provas materiais, não podemos descartar que o monumento maçônico teria sido alvo de um crime de ódio, perpetrado por grupos de visão estreita, caolha, que sequer conhecem o significado e a obra da maçonaria. E sustento esta tese baseado em fatos ocorridos no ano passado, por grupos religiosos sediados em Camacan.
O tema chegou ao conhecimento da população e, preocupado com a consumação do ato, dirigentes da Loja Maçônica Mahachoan se encontraram com o então prefeito para se inteirar dos acontecimentos. Pedidos de desculpas e negativas de que tal processo estaria em andamento no poder público municipal, foi consumado após um espaço de tempo.
Em tempos propícios à lacração, não só a queda da reputação de pessoas é pretendida, mas – e também – o extermínio de qualquer peça física que lembre a instituição condenada à morte física ou intelectual. E esse costume percorre o mundo, como se a intolerância fosse uma questão de gosto individual praticado por pessoas ou grupos que querem mudar o status quo das civilizações.
Cresce assustadoramente no Brasil grupos criados e mantidos com a finalidade de praticarem os chamados crimes de ódio, sejam com o “cancelamento” de pessoas que não comungam com seus ideários. E o que é mais grave: são vistos por quem de direito com a maior passividade e encontram eco multiplicador na imprensa, como se crime não fosse.
E não precisa ter conhecimento jurídico para identificar os crimes de ódio, abominados já na introdução da nossa Carta Magna, no Código Penal (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989. A intenção era proteger as minorias sociais que sofriam discriminações de racismo, homofobia, xenofobia, etnocentrismo, intolerância religiosa e preconceito com deficientes, dentre outras.
Entretanto, a legislação não foi capaz de coibir a prática desses crimes, e hoje presenciamos o que é muito mais grave: a intolerância ao pensamento político. No Tratado sobre a Tolerância, François-Marie Arouet (Voltaire) já alertava:
“O direito de intolerância é absurdo e bárbaro: é o direito dos tigres, e é bem horrível; porque os tigres matam para comer e nós andamos a exterminar-nos por causa de parágrafos”.
Historicamente, a intolerância está presente na esfera das relações humanas fundadas em sentimentos e crenças religiosas. É uma prática que se “autojustifica” em nome de Deus, adquirindo o status de uma “guerra santa” entre os homens. Também não toleramos os pobres, que são rotulados pela cor da pele e ideologia – uns prestam, outros não.
A injustiça campeia a passos largos, com a nossa aquiescência e medo de nos envolvermos, apesar de termos consciência dos males praticados uns contra outros. Trata-se de violências praticadas contra seres humanos, nossos semelhantes, e continuamos como que anestesiadas diante das injustiças que os atingem. Não nos indignamos, não protestamos, não reagimos.
Recorro ao discurso do patrício Ruy Barbosa no Senado, em 1914. “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Com base nessas lições deixadas pelos grandes pensadores da humanidade vale ressaltar os princípios da Maçonaria, que tem como modelo a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E para encerrar, volto a apelar para uma frase atribuída a Voltaire: “Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”.
*Radialista, jornalista e advogado.