A velocidade do tempo
A história de Itabuna é muito recente e ainda dá para lembrar muita coisa vivida nesses 101 anos, dos quais tive pequena participação em 60%, uma ligeira amostra de que já não sou mais criança. Como quando cheguei, em cima de um caminhão, com a família disposta a trabalhar, nos idos de 1951. A cidade tinha tudo para ser feito e eu, muito a aprender.
Da pequena bodega, muitas vezes sob a responsabilidade de uma criança de nove anos, aprendi com muitos personagens que contavam suas histórias de vida, construindo casas em fazendas distantes, numa época em que as estradas quase nem existiam e o meio de transporte era o lombo da mula, até para fazer chegar às entranhas da região o material necessário para levantar casas para os trabalhadores e bangalôs com varandas para os proprietários de terra.
O velho “Maria Fumaça” chegava pontualmente às 11 horas, com o forte apito anunciando sua presença, conduzindo gente e carga. As marinetes iam e vinham, levantando poeira que invadia as casas situadas ao longo da rodagem. E tinha a algazarra das crianças felizes na hora de disputar um “baba” no campinho que ficava ao lado da escola da professora Celina Braga Bacelar, exuberante em suas atitudes de mulher acostumada a assumir o comando da vida e passando sua experiência para os mais jovens.
O centro da cidade era praticamente o mesmo dos dias atuais. Na rua 7 de Setembro ficavam os grandes armazéns onde meu pai abastecia o seu pequeno comércio com a charque do Rio Grande, as barricas de bacalhau da Noruega, as latas de banha de porco, os pacotes de cigarro. Na estreita rua J. J. Seabra, as lojas de tecido e calçados. E nas demais ruas do centro ficavam as casas residenciais das famílias mais abastadas, hoje, o registro do domínio do comércio expandido, com muitas famílias sendo obrigadas a mudar de endereço, depois de construir suas mansões no bairro Góes Calmon, sofisticado, invenção do visionário Mário Padre, que criou um novo estilo “status” de vida para o itabunense., enquanto as diversas ruas paralelas ganhavam o colorido das lojas de roupas masculinas e femininas e até crianças ganharam suas lojas de grife.
Alguns conterrâneos se lembram da inauguração do Aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho? Em 1952, num dia ensolarado, acompanhei meu pai e vi, pela primeira vez, o pássaro de aço descer com a pista e a encosta do morro, onde ficava a residência do coronel, apinhada de gente. Na hora da descida e da subida, um redemoinho de poeira a todos cegava, mas nos deixava a sensação de que o progresso havia chegado a Itabuna.
Das meninas a doce lembrança do início da rua Sete, onde quase todas as casas tinham a marca do prazer, depois jogadas para o Cajueiro, com as lâmpadas vermelhas distinguindo onde se situavam as famílias e as garotas que “saiam de casa” logo após a descoberta das primeiras relações sexuais povoavam o mundo masculino, enquanto a Avenida do Cinquentenário recebia calçamento, cinemas e anúncios de neon polvilhando o comércio com suas luzes incandescentes.
A cidade expandia seus tentáculos e os bairros distantes pareceram bem mais próximos. O transporte urbano, que cruzava o bairro Santo Antonio com o Conceição e a Mangabinha com o Cajueiro, passou a atender uma demanda maior e demonstrava o aumento da população, o crescimento de emprego e indústrias caseiras de colchões de mola, café, roupas e sapatos surgiam para suprir a demanda. O único colégio particular – Divina Providência – ganhou a companhia da Ação Fraternal e Escola Técnica de Comércio, o Ginásio Firmino Alves, noturno e gratuito, formavam moças e rapazes com ensino de qualidade. Depois, foi a vez do Colégio Estadual. Antes, a Faculdade de Filosofia de Itabuna estreava a vinda de professores qualificados para suprir a lacuna de mestres no ensino da cidade.
No futebol, a presença dos clubes cariocas em nossos gramados fizeram a diferença em relação aos demais municípios do interior da Bahia – Botafogo, Fla e Flu, Vasco e América – e fomos hexa-campeões do interior, chegamos a disputar o campeonato baiano, sempre com boa presença, mas cometemos o pecado de não levarmos a sério o futebol amador e perdemos o caminho dos títulos de 1966.
A indústria ampliou a sua malha com a Nestlè, o cooperativismo nos deu a primazia de qualidade na produção de queijo e manteiga até sofrermos a derrota com a débâcle da Coopercacau e nunca mais nos aprumamos na saga da formação societária via cooperativas. O Parque de Exposições atingiu o ápice com a Festa do Cacau e exposições agro-pecuárias e agora retoma o caminho com a reaproximação de produtores e Sindicato Rural de Itabuna.
A imprensa escrita tem longa tradição em Itabuna. Desde o tempo em que a cidade começou a ser formada os jornais sempre tiveram papel preponderante. Na década de 50, o Intransigente e Diário de Itabuna. Nos anos 80, Jornal Agora, A Região e Diário Bahia, impressos em off-set. Depois, as TV Cabrália, Santa Cruz e a noviça TV Itabuna.
E veio a crise. O cacau deixou de produzir 450 mil/ton., graças à vassoura-de-bruxa. Hoje, mal chega às 150 mil toneladas. Uma perda de 300 mil toneladas. A receita dos municípios teve uma queda considerável e o governo federal, maior responsável pelo não combate à praga, uma doença endêmica, sem que se tenha uma representatividade à altura, capaz o suficiente para obter o reconhecimento do governo central pela omissão e incapacidade do órgão técnico (Ceplac) para resolver o grave problema, quando 250 mil trabalhadores perderam empregos e os fazendeiros, receita.
Mas Itabuna continua ousada. A prestação de serviços tomou o seu lugar na economia da cidade. E comércio, educação e saúde passaram a ser o carro-chefe. As lojas das ruas Sete de Setembro e J. J. Seabra cresceram e deram um novo espaço ao Jequitibá Plaza Shopping, hoje o top de linha como atrativo maior de uma cidade que nasceu para ser líder.
E ao sairmos das ruas enlameadas, sem calçamento, para atingirmos novo patamar na história de Itabuna, mostramos ao mundo que somos vanguarda.
História & estórias
Quando funcionário da Gráfica A Agenciadora, sempre fiz questão de sair mais cedo de casa para chegar ao Elite Bar, que tinha comprado dois aparelhos de “Totó” (jogo de bonecos) e eram disputadíssimos pelos mais velhos. Lembro que Abiezer era um dos campeões no joguinho inocente em que “atletas” ardorosos na defesa de suas cores eram manuseados por alguns campeões momentâneos. As crianças só tinham vez quando os “titulares” saiam para os seus trabalhos e nós dispúnhamos de cinco ou seis minutos para manusearmos os bonecos.
A distância do bar de “seu” Hemetério Araujo para a “A Agenciadora” era de duas casas, o que nos garantia tempo de sobra para disputar uma ou duas partidas.
Depois, veio a mudança e, por conseqüência, o fim da distração de minutos que nós, crianças, dispúnhamos. A paralisação do comércio, por conta da ação do prefeito Alcântara, que resolvera diminuir a metragem das casas à esquerda, para abrir uma nova avenida, mais compatível com uma cidade que iria completar 50 anos de emancipada, inaugurada no dia 28 de Julho de 1960, que passou a ser o símbolo de uma cidade jovem, com poucas histórias para contar sob o ponto de vista das ações do governo municipal até aquela data, com a Avenida do Cinqüentenário passando a ser o principal símbolo da pujança e fonte para o alvorecer de Itabuna como cidade líder do Sul da Bahia, onde nem mesmo a enchente de 67 conseguiu mudar o perfil impávido da gente grapiuna.
A crise do cacau, no entanto, alterou o rumo da economia regional. A queda no volume da produção e a conseqüente redução da circulação de dinheiro foi o estopim da mudança do perfil da cidade, que ainda recebeu uma grande leva de desempregados oriundos das fazendas que fizeram o inchaço da periferia com favelas, violência e atendimento deficiente na saúde e na educação. O comércio, e a prestação de serviços (saúde e educação) mudaram o quadro que teve, ainda, o Jequitibá Plaza Shopping e a construção civil como atores principais nessa nova retomada da economia itabunense.
HISTÓRIA & ESTÓRIAS
Em 1961 o bairro Góes Calmon ainda estava em plena formação, com os arquitetos e seus projetos na prancheta. A Rua Rio Colônia, por exemplo, era o local onde o sargento Paulo trazia os seus comandados para o treino de tiro. Os velhos fuzis eram entregues a grupos de rapazes e os disparos, em direção ao alvo, eram feitos regularmente.
Poucas armas estavam em condições de serem ativadas e, após os disparos, cinco ao todo por cada atirador, eram passadas para outro grupo. O problema é que a minha turma tinha nada menos que 180 rapazes e quando chegava a minha vez, no número 84, o fuzil já estava “pegando fogo” e me forçava a fazer disparos com a maior rapidez possível para me livrar da obrigação de acionar o gatilho. Fica claro que o alvo era o que menos importava.
Por sua vez, os fuzis eram bem antigos e talvez não tivessem a precisão que se requeria para se tentar o alvo com a devida qualidade. De minha parte, nunca fui adepto de sair atirando a esmo para buscar um prêmio ou qualificação de bom atirador. Aliás, atributo de Armando “Doca” Viana, o campeão de nossa turma.
O melhor momento era a espera. Ou seja, enquanto os primeiros atiravam, ficávamos embaixo de frondosa árvore, conversando sobre um bocado de coisas, bobagens ditas sobre as farras que fazíamos com Sophia Loren, Brigitte Bardot – a campeã – e Gina, sonhos de garotos como José Lucas Nogueira, para passar o tempo, enquanto as balas zuniam nos ouvidos e os velhos fuzis de duvidosas qualidades eram acionados.
Convenção
O DEM realizou a sua convenção, reelegeu Maria Alice, e deu um novo alento ao Capitão Azevedo, alvo de muitos boatos sobre a sua permanência no 25. Maria Alice mostrou a velha qualidade de líder e fez uma bela convenção. Mas, acima de tudo, prevaleceu a definição de apoio ao Capitão Azevedo junto às lideranças sediadas em Salvador.
Meu grande amigo. Fez mu por nossa cidade. 😍
Meu grande amigo. Fez mu por nossa cidade. 😍
Parabéns para itabuna.