Por Walmir Rosário*
Entra ano e sai ano é tudo igual – ou quase. Os sonhos são de um próximo ano bastante promissor, que seja capaz de realizarmos tudo aquilo que queremos. Para tanto, fazemos nossas promessas jurando cumpri-las na integralidade, o que nem sempre acontece, melhor dizendo, por nossa máxima culpa. Não vale colocar nessa conta o passivo de 2020, que alguns refutam até o ativo, mas essa é uma questão meramente contábil.
Cá pra nós, eu também não deixei de fazer minhas promessas, agora bem mais cauteloso com os ensinamentos do ano que se passou, pedindo ao Criador que o apague de nossas memórias e não traga outro igual. E esse meu pedido foi feito baseado no que tenho ouvido bastante nos últimos tempos, de que teria sido um castigo divino, uma espécie de feio de arrumação que acontece nos ônibus urbanos lotados.
Pelo que tenho observado, esse castigo é natural e acontece de vez em quando, provocado pela humanidade que, desvairada, começa a meter o pés pelas mão, na tentativa de mudar a ordem da vida. Caso eu esteja errado que me apresentem uma tese bem mais abalizada sobre a ordem dos acontecimentos. Por enquanto continuo acreditando no efeito bumerangue.
Mas voltando à vaca fria – aconselhado – coloquei nas minhas contas as passagens de 2020, para não esquecer, jamais! Analisando os altos e baixos, concluí que o meu saldo foi positivo, embora não tanto quanto nos anos passados. Por isso, minhas promessas de mudanças foram mais volumosas e pretendo cumprir todas, salvo aquelas que não tenham jeito, aquelas consideradas imexíveis.
A primeira delas é passar a cuidar melhor da saúde, retomando as caminhadas, os exercícios de alongamento nas argolas, o levantamento de kettlebell, todo e qualquer dia, sem desconto de dias santos e feriados. Para dar uma ajuda à ginástica, pretendo fazer uma seleção prévia do que comerei e beberei, me esforçando para renegar os churrascos de costela, cupim, picanha.
Acredito que com a parte gastronômica não terei muita dificuldade e até já planejei um treinamento supimpa: passarei diariamente nos supermercados para observar os preços praticados a cada dia, pois estão pela hora da morte. Aproveitando essa mesma viagem, passarei em frente às prateleiras das bebidas – quentes e frias – para me certificar das últimas remarcações, quando então reclamarei da alta do dólar e do frete.
Mais que tudo, é preciso ficar bem vigilante às intemperes da economia, fazendo investimentos na hora certa. Não estou me referindo aos negócios em bolsa de valores, e sim na hora apropriada de adquirir passagens aéreas, cujos preços se encontram nas alturas, como os voos dos aviões, sem falar no custo da hospedagem, capaz de deixar desabrigado qualquer turista desavisado.
Também prometo que trabalharei mais, ainda, do que em 2020. Nesse ponto faço questão de explicar direitinho para que não pensem que fiz corpo mole no ano passado, aproveitando a chegada da pandemia. Nada disso, como sou um cidadão obediente às leis, simplesmente fiquei em casa por todo o tempo ordenado pelos nossos governantes, para não ser enquadrado num desses decretos qualquer.
Para conseguir motivação, já li mais de uma dezena de livros de autoajuda, buscando inspiração para o meu novo ritmo de vida e aprender a abrir mão dos costumes, sem o risco de qualquer trauma ou depressão. E aí é onde estou me deparando com as maiores dificuldades em seguir uma vida normal, sem me enfiar num pijama listrado ou me transformar num zumbi.
Em nenhum dos livros – lidos com bastante atenção, é bom que se diga –, encontrei qualquer referência sobre a vida social das pessoas que resolvem dar essa guinada de 180 graus em direção ao abismo. Rogo a algum leitor de reconhecida sabedoria que me envie, por gentileza, algumas informações sobre como se encontrar com os amigos, cumprindo essas promessas descritas.
E não me venham com esse ar professoral, aplicando a velha narrativa do uso das mais modernas e conhecidas tecnologias a serviço do homem, bastando, tão somente se conectar pelos conhecidos e disponíveis aplicativos. Sei dos riscos da infecção do atento coronavírus, mas não me conformo em ficar engaiolado em casa, como costumam fazer com os passarinhos e outros animais, aos quais chamam de estimação (?).
Como disse desde o início, minha prosa é daquela tête-à-tête, olho no olho. E pra semana tenho dois compromissos inadiáveis em Itabuna, que são recepcionar – no Alto Beco do Fuxico – o meu amigo Carlos Ulisses Valverde Dória (Carlucha), que retorna da Pauliceia, e festejar o cinquentenário do título de Campeão Baiano Juvenil do Itabuna Esporte Clube, a convite do amigo Bel, aos quais não posso faltar.
Quero apenas de me cercar de todas as possibilidades de que não deixarei de honrar as promessas feitas no transcorrer de 2020 para 2021, apenas procuro me garantir em viver sem arrependimentos. Não sou avesso à tecnologia, mas continuo com a minha tese de que as redes sociais aproximam os que se encontram distantes e afastam os que estão próximos. O problema é quando os próximos se encontram e prometem que será apenas uma vez. “Transgredir, quem não há de”, como diria aquele colunista social.
*Radialista, jornalista e advogado.