Walmir Rosário*
A eleição presidencial de 2018 foi rica em ensinamentos e quem buscou o aprendizado agora nada de braçadas na eleição municipal neste ano de 2020, em que a pandemia tratou de mudar, ainda mais, o comportamento e costumes da sociedade. Os novos, ou diferentes, trataram de ocupar seus espaços e fizeram com maestria, falando a verdade, olho no olho, sem ter o que esconder da população.
E assim está sendo por todo esse imenso Brasil, exceto em algumas cidades, que embora não seja tão insignificativo que não merece um estudo maior, devido a diferenças paroquiais atávicas. No sul da Bahia uma cidade me chama a atenção: a tradicional Ilhéus, que volta e meia chuta o pau da barraca, dá um freio de arrumação e desbanca a velha e coronelista política.
O que acontece em Ilhéus é por demais importante para a sucessão no estado da Bahia, haja vista as duas forças políticas postas como as preferidas do eleitorado baiano. Uma, a liderada pelo governador petista Rui Costa e, do outro lado, aparece o prefeito de Salvador, ACM Neto, considerado o melhor prefeito de capital conforme apresenta todos os institutos de pesquisa.
Mas o que tem ACM Neto a ver com a escolha do futuro prefeito de Ilhéus? Tudo, digo eu, e explico. Conforme deixou claro, o melhor prefeito do Brasil pretende influir no pleito de 15 de outubro em vários municípios e Ilhéus se tornou a preferida. E o seu candidato é o empresário Valderico Junior, que desponta no tabuleiro político como o representante da verdadeira mudança.
Com a vitória do candidato de ACM Neto em Ilhéus, o prefeito e provável futuro candidato a governador, conforme mostram as pesquisas, pavimenta uma enorme avenida em direção ao palácio de Ondina. Por outro, faz vestir os pijamas listrados da aposentadoria política muitos adversários, a exemplo de Jabes Ribeiro, a deputada Ângela Sousa, Cacá Colchões, que abandonou o voo solo, e Ednei Mendonça, há anos liderando o petismo.
O que Valderico Junior apresenta de novo para que represente esse desejo de mudança da população? A esperança dos que ano após ano votam nos mesmos, com as velhas promessas e as conhecidas desculpas. Pouco ou nada fazem, embora pretendam se manter por décadas a fio no poder. Perderam a noção de tempo e do espaço e ainda se julgam os coronéis, chefes de jagunços armados de parabéluns e repetições.
As armas para a guerra eleitoral de hoje são outras, bem diferentes daquelas que vomitavam chumbo e terror. São simples smartfones, carregados de máquina fotográfica, filmadora, gravador, dentre outros aplicativos que fazem uma notícia correr o mundo com um simples clique no facebook, instagram, twitter. E causam um terror maior do que uma bomba atômica por mostrar, em tempo real, as mentiras, a corrupção, a falta de compromisso.
E foi com um aparelhinho desses que esses dias recebi imagens de alguns representantes da velha políticas serem enxotados de um dos morros ilheense sob protestos, estrepitosas vaias e palavras de ordem. Os velhos coronéis perderam o comando, o povo não mais se entusiasma com a retórica ultrapassada, os discursos rococós repetidos com exaustão a cada período eleitoral, para nunca serem cumpridos.
Se analisarmos bem, muitos são os candidatos que se apresentam em Ilhéus. Alguns são mais dos mesmos, outros representam segmentos fechados e um deles aparece desafiando o atavismo político. De início não acreditaram, apenas e tão somente por não ter pertencido aos seus grupos, ter vindo da mesma escola da enganação e da visão caolha da gestão pública.
Se enganaram redondamente e a luz vermelha acendeu com tanta intensidade, que a luminosidade chegou a Salvador, subiu ao palácio de Ondina atrapalhando os planos políticos de Rui Costa no sul da Bahia. No grupo aliado do governador, liderado pelo senador Otto Alencar, o crescimento de Valderico Junior caiu como um tsunami na estratégia de manter o poder por mais quatro anos no Palácio da Conquista.
Mas o que tem esse garoto que por muitos anos comandou a música que sempre trouxe alegria para o ilheense do morro e do asfalto a preocupar os poderosos da política de Ilhéus e Salvador? Para os que ainda não sabem, ele fala a mesma linguagem do povo, mostra com simplicidade o que poderá fazer para diminuir as diferenças econômicas e sociais, uma receita simples quando honesta nos propósitos.
As pesquisas estão aí, realizadas a cada semana para mostrar a força de cada grupo, de cada candidatura, mas continuam guardadas a sete chaves, longe das vistas de curiosos sob pena de fazer ruir os castelos de areia ameaçados pelas fortes ondas da maré cheia que avança pelas praias ilheenses. Como diz a sabedoria popular, as velhas raposas já não amedrontam como antes e nem mesmo convencem.
*Radialista, jornalista e advogado