A picanha de Itororó e o nervosismo do garçom

Por Walmir Rosário

Num domingo chuvoso desses resolvemos – eu e minha mulher – almoçar fora de casa. Nossa dificuldade em escolher um restaurante foi terrível. Era dia em que se comemorava uma data consumista – Dia da Mães – em que todos os casais resolvem sair de casa ao mesmo tempo para almoçar juntos após entrar numa fila para aguardar uma mesa, o que não é meu negócio.

Entre as opções os restaurantes do Banco da Vitória, praça de alimentação dos viajantes que buscam o ar salitroso do São Jorge dos Ilhéus. Mas existia uma condição proibitiva: como evocar o velho e bom Baco, deus romano do vinho, da ebriedade, se a “lei seca” nos obriga a cortar do nosso cardápio um dos prazeres da mesa, o vinho, cerveja ou outro artigo etílico equivalente. Caso contrário é se arriscar a cair das garras da lei, ou de Polícia Rodoviária.

Para não estragar meu domingo com esse tipo de planejamento fora dos propósitos gastronômicos, resolvi ir num restaurante recém-inaugurado, em Itabuna. Na entrada, fomos bem recebidos e cercados de gentilezas. Mas ficou só nisso. Assim que sentamos, fomos abandonados pelos garçons e era um suplício solicitar a simples reposição de uma garrafa de cerveja.

Não, a casa não estava lotada e mesas ainda se encontravam à disposição dos descautelosos clientes. Após dezenas de investidas para pegar um garçom no laço, finalmente chega uma garrafa de Bohemia geladíssima. Pensei comigo: “Valeu a pena”, cochichei triunfante à minha mulher, completando que teríamos acertado na escolha.

Ledo engano, eu não pressentia que o pior ainda estaria por vir. E veio a cavalo, como diziam nossos antepassados. Eis que chega o garçom, garboso e altaneiro, Bohemia na bandeja. Como num passe de mágica, vejo nossos prazeres da mesa ruir como um castelo de areia. Ao fazer mais uma mesura, o garçom perde o equilíbrio e, em vez de colocar a cerveja na taça de minha convidada, derrama o líquido na sua bolsa, que descansava na cadeira vizinha.

Uma catástrofe! Uma tempestade de maus pensamentos invadiu meu cérebro, cujos neurônios enviavam mensagens furiosas e abomináveis. Após as desculpas de praxe, resolvemos continuar aguardando nossa picanha de carne do sol com a grife “Itororó”. Refeito do susto e passado algum tempo, outro garçom (o desastrado sumiu), finalmente chega com nosso pièce de résistance, acompanhado de farofa de manteiga de garrafa com cebola e feijão-verde. Finalmente, colocamos nossos talheres em plena atividade.

A comida estava bem preparada, com a picanha de carne do sol no ponto, bem como os pratos de acompanhamento, que passamos a degustar sem qualquer cerimônia. O Grande problema foi o serviço, lento e desastroso. Por isso, não voltei mais ao restaurante, que nos cobrou um preço astronômico e sequer pediu desculpas pelo transtorno.

Passados alguns domingos resolvi preparar o mesmo prato em casa e deu muito certo. Confesso que comi bem e muito.

Confira:

 

INGREDIENTES:

PICANHA

– ½ picanha de carne do sol cortada no sentido longitudinal;

– manteiga suficiente para grelhar a picanha.

 

PREPARO: Colocar na chapa, deixar assar até formar uma crosta e virar, para deixar a carne suculenta por dentro

 

FAROFA

– duas colheres (sopa) de manteiga de garrafa;

– ½ cebola picada;

– 1 dente de alho amassado;

– 1 xícara (chá) de farinha de mandioca;

– sal e salsinha picada a gosto

 

PREPARO: colocar a manteiga na caçarola, deixando-a em ponto de fritura, colocar a cebola e o alho até dourarem, despejar a farinha aos poucos, sempre mexendo, e um pouco de sal. Após bem misturada, colocar a salsinha.

 

FEIJÃO VERDE

– uma xícara e meia (chá) de feijão-verde;

– bacon cortado em cubinhos;

– um dente de alho médio;

– ½ cebola picada;

– salsa, cebolinha, coentro (a gosto);

– duas colheres (sopa) de manteiga;

– sal;

– ½ pimentão, um tomate sem pele e sem semente.

 

PREPARO:

– numa panela em fogo médio cozinhe o feijão em água (pouca) e sal e reserve;

– numa vasilha a parte frite os cubinhos de bacon na manteiga, em seguida o dente de alho amassado, a cebola, pimentão e tomate picados;

– depois transfira o feijão para a vasilha onde fritou o bacon com os temperos e deixe e por alguns minutos em fogo baixo até reduzir a água.

– coloque os temperos verdes.

 

AOS TALHERES

Sirvam-se e bom apetite. Mas não esqueçam de antes degustar uma boa dose de cachaça, excelente para abrir os “caminhos” e acompanhar uma cerveja bem gelada.

Pela alta qualidade do prato até o garçom foi perdoado.

 

*Radialista, jornalista e advogado