Por Walmir Rosário*
Convidado pela organização do evento Garota Verão Coca-Cola – realizado por anos a fio em Canavieiras, lá pelo início do fim da década de 1980 e o início da década de 1990 – fui fazer a cobertura jornalística do evento para o Correio da Bahia. Cheguei às vésperas – sábado – para rever os tantos amigos residentes na cidade e colegas da imprensa, dar uma geral nos points etílicos e gastronômicos, rever Canes, como era chamada à época.
Já era esperada a notável noitada no sítio histórico – como sempre, das melhores –, considerada uma prévia do que nos esperava no dia seguinte na praia da Costa, na Ilha da Atalaia, onde era realizada a festança. Apesar da viagem a trabalho, sempre que ia a Canavieiras para mais de um dia, fazia questão de levar minha mulher, pois nos reuníamos com amigos mais chegados, a exemplo do jornalista Tyrone Perrucho.
No domingo – logo cedo –, ao chegarmos à sala do café da manhã, encontramos com os organizadores do evento, colegas da imprensa, amigos em geral, entre eles, o colega Tyrone Perrucho, que já nos aguardava para mais um bordejo na cidade. Enquanto partimos para desjejum, fui alertado pelos jornalistas Vili Modesto (de A Tarde) e Dikas Cezimbra (organização) que eu estava escalado para fazer parte do privilegiado júri.
Refeito da surpresa, tentei me desincumbir da nova missão confiada, que por certo não se coadunava com o mister da reportagem, já que estaria tolhido de ouvir pessoas, pois estaria preocupado em analisar os atributos das candidatas que esperavam ser a nova Garota Verão Coca-Cola. Meus pedidos de desculpas não foram aceitos e eu teria que substituir o jurado faltoso.
Confesso que não era (e ainda não é) a “minha praia”, mas diante dos apelos recebidos, inclusive do então prefeito Almir Melo, aceitei ir para o sacrifício, afinal, Canavieiras – ou Canes – era digna de merecimento. Barriga cheia, saí com o colega Tyrone Perrucho para visitar alguns bares que se encontravam fora do roteiro turístico/etílico/gastronômico, mas nem por isso desmerecedores de nossa atenção.
No terceiro bar que chegamos fizemos – eu, minha mulher, Tyrone e sua “coligada” – uma reunião para avaliar as consequências caso não comparecesse para compor e prestigiar o honroso corpo de jurados. A decisão tomada – por unanimidade – era a de sumir do palanque, pois não haveria grande prejuízo para o evento, já que seria substituído por alguém mais capacitado, um dos muitos experts presentes.
Dito isso, rumamos para um dos points da época em Canavieiras, o Ilha Náutica, famoso pelo seu delicioso cardápio e sua variada carta de bebida. O inusitado para os frequentadores do Ilha Náutica era a atenção e o respeito à tábua de marés, que não tolerava os variados, sequentes e intermináveis pedidos de saideiras, enchendo ou vazando por uma vasta área, impedindo a entrada ou saída.
Volta e meia o assunto “jurado da Garota Verão Coca-Cola” era suscitado nas nossas conversas, simplesmente por curiosidade de saber como tinham se ajeitado os organizadores diante na minha insubstituível ausência. Até conjecturávamos o desconforto dos colegas Vili Modesto e Dikas Cezimbra a – insistentemente – reclamar a minha presença pelo alto-falante.
– Garçom, traga mais uma cerveja, dois quibes e três caranguejos –, solicita Tyrone Perrucho.
Um pouco mais tarde começamos um bate-papo com o diretor-presidente do bar e restaurante Ilha Náutica, o prestigiado Arenilson Mota Nery (Arenouca), que veio à nossa mesa apresentar as novidades no cardápio do restaurante, ampliado recentemente. Conversa vai, conversa vem, Tyrone Perrucho – sabedor dos acontecimentos locais – explica que eu seria um dos jurados do Garota Verão Coca-Cola, e que precisaria sair, pois em pouco tempo começaria o julgamento.
A revelação caiu como uma bomba e Arenouca, de início, meio sem jeito, nos avisou que uma parente sua era uma das garotas concorrentes e começou a cabalar o voto para a familiar candidata. Pagamos a conta, deixamos o restaurante cercado de água da maré cheia e rumamos para o sítio do evento, completamente lotado, onde já se desenrolava a escolha da melhor candidata ao majestoso título.
Paramos e assistimos o concurso de um local relativamente longe até a escolha da candidata vencedora, a Garota Verão Coca-Cola. Anotações feitas, nos dirigimos à cabana sede do evento e nos apresentamos com a desculpa que ficamos retidos pela maré alta, portanto, impedidos de avisar o transtorno (ainda não existia a telefonia celular nessas terras), e ficou tudo na mais absoluta tranquilidade.
Aproveitei o meu retorno para conversar com os organizadores e fechar as informações para a minha matéria, a ser escrita e enviada pelo fax e as fotos despachadas pelo avião da Vasp. Sentados, mais calmamente, demos boas risadas sobre os acontecimentos do dia, quando, aparentando preocupação, Tyrone Perrucho, de olho na planilha de resultado do concurso, me informa: “A filha do nosso amigo Arenouca, da Ilha Náutica, perdeu por apenas um voto, justamente o seu, que faltou ao júri”, disse em tom de gozação.
Não sei explicar o motivo, mas essa foi a última versão da Garota Coca-Cola em Canavieiras, ou como dizia o slogan criado por Almir Melo: Canavieiras para todos, Canes para os íntimos!
*Radialista, jornalista e advogado