Por Walmir Rosário*
Em 2006 os partidos se preparavam para lançar seus candidatos aos diversos cargos eletivos, dentre eles os de deputados federal e estadual. Em Ilhéus, o Partido dos Trabalhadores (PT) tinha como grande trunfo para a Assembleia Legislativa da Bahia, o nome do médico Rui Carvalho, que vinha de uma excepcional campanha a prefeito e era considerado “pule de dez” pelos petistas ilheenses.
Como sempre, nem tudo no PT são flores, concordâncias, o que levanta discussões inócuas e intermináveis debates que não resolverão absolutamente nada e só atrapalham. No meio dessa análise, as diversas correntes (ou facções) promovem longas e pachorrentas reuniões, que embora nada resolvam têm a finalidade de marcar um novo encontro, para, é claro, discutirem ainda mais.
E neste debate saia de tudo: de que Rui Carvalho seria apenas um neopetista, portanto deveria ficar de “quarentena” até que pudesse ser considerado um petista “sangue puro”, como se não já tivesse disputado eleição pelo partido, inclusive a prefeito. Mas isso é considerado normal dentro do partido e os petistas não abrem mão de mostrar que faz parte da democracia, embora se saiba que quem mandam mesmo são as elites partidárias.
E são elas – as elites – que começaram a conversar com o candidato a candidato a deputado estadual Rui Carvalho, ou simplesmente Dr. Rui. Essas conversas chegaram a mais de uma dezena e consumiram algumas semanas de bate-papo, algumas sabatinas e há quem afirme que, até mesmo, interrogatórios, a depender do representante das diversas facções.
E essas conversas, a depender do interlocutor, eram realizadas nos mais diferentes locais, desde a sede do diretório a um bar qualquer, pois também era conveniente – de acordo com as partes – que, de início, fossem quebradas algumas arestas. E nada melhor do que uma rodada de cerveja, após um aperitivo, para nivelar os ânimos. Etilicamente falando, nada mais providencial para dar início a um debate, principalmente os de cunho político-eleitoral.
Mas, a depender da liderança, essa conversa reservada pode acontecer num local mais aconchegante, notadamente se o interlocutor for considerado um dos “cardeais” do partido. Na casa do candidato, por exemplo, cercada de mimos e com direito a mordomais nunca antes dispensadas a outros simples mortais. Sim, isso faz parte do debate democrático, embora alguns prefiram dizer que é uma prática desigual, coisa inventada pelo capitalismo selvagem para enganar os incautos. Pura inveja.
Pois é, mas nesse dia Dr. Rui receberia nada mais nada menos do que o ex-prefeito de Itabuna, deputado estadual, federal e novamente candidato à Câmara Federal. Whisky do melhor (acima dos 18 anos, como convêm e determina o cerimonial), bons canapés e outros acepipes de entrada, dois a três pratos de resistência (geralmente um de peixe, um de lagosta e outro de carne), vinhos de boas e reconhecidas origens, licores finos. Nada melhor para impressionar.
E eis que na hora marcada toca a campainha e chega o ilustre convidado e adentra à mansão do Outeiro, com bela vista para o mar de Ilhéus, cercada de plantas, muitas delas produtoras de alimentos. Ciceroneado por Dr. Rui, Geraldo Simões se mostrava encantado a cada parte da casa visitada, elogiando o bom gosto do anfitrião, “homem simples, mas de bom gosto”, conforme ressaltava Simões.
Mas o que mais chamou a atenção do visitante foi um pé de fruta-pão, planta muito comum nos quintais de antigamente, mas raridade nos dias de hoje. Por ser técnico em agropecuária de formação, Geraldo Simões elogiou a planta e demonstrando conhecimento, declinando, inclusive, num arroubo de sabedoria, o nome científico da árvore: “Artocarpus altilis”. Claro que fazia de tudo para impressionar o dono da casa.
Barriga cheia, conversa feita, martelo batido, ponta do prego virada, enfim, foi sacramentada a garantia da aprovação do nome de Rui Carvalho como um dos candidatos a deputado estadual pelo PT. Pelas contas feitas no calor de fino vinho do porto, Dr. Rui seria o campeão de votos, sairia consagrado de Ilhéus e visitaria outros municípios muito mais para garantir votos para a legenda, pedir votos para os colegas, além de visitar os amigos botafoguenses.
Mas como nem tudo são flores, três dias após a visita de Geraldo Simões, o médico ilheense começou a sentir que seu pé de fruta-pão começou a definhar e Dr. Rui, resolveu fazer uma inspeção mais apurada na planta. Bastou chamar um engenheiro agrônomo amigo seu para analisar o pé de fruta-pão que o diagnóstico foi incisivo, por parte do ceplaqueano.
– Dr. Rui, o problema é mais grave do que pensávamos, seu pé de fruta-pão foi atacado pela vassoura de bruxa – sentenciou.
A partir dessa data Dr. Rui começou a ter um pressentimento de que havia no algo mais no ar do que os aviões de carreira. Veio a eleição e, infelizmente, os prognósticos não foram exatamente os esperados – os de urnas consagradoras, com votação maciça para o candidato e os companheiros de partido. Há quem afirme que a candidatura do Dr. Rui Carvalho tenha sido acometida por fungos e pragas da política.
*Radialista, jornalista e advogado