Por Walmir Rosário*
Após todas as mudanças possíveis e imaginárias, finalmente O Berimbau estaciona para não mais sair do famoso Beco d’O Berimbau, também apelidado de rua Dr. João Sá Rodrigues. E esse ânimo definitivo passou a influenciar na escolha das bebidas e comidas, nos frequentadores assíduos, bem chegados, tolerados e indesejáveis, com direito a figurar no livro de atas escrevinhadas pelo Secretário Plenipotenciário Tolentino (Tolé).
De uma tacada só foram escolhidos os símbolos para reverenciar a festejar o recém-chegado – desde que bem chegado –, e o sino foi um deles, que é tocado incessantemente até que tomasse assento junto aos amigos. Daí para a criação da Confraria d’O Berimbau foi um pulo, bastando lavrar na ata a fundação, a relação dos confrades e as exigências para que pudesse pertencer aos quadros da entidade.
De acordo com a consistência do balançar do sino é conhecido o nível de prestígio do chegante junto aos confrades. Se o toque alegre duradouro, bom sinal; sem grandes folguedos, o chegante não fede nem cheira; se adentrava ao recinto e o sino continuava em seu canto e mudo, vá procurar outra freguesia. E assim o sino passou a configurar entre os bens e propriedades físicas e imateriais da Confraria d’O Berimbau.
Não custa relembrar que o sino da Confraria d’O Berimbau é uma peça de trabalho e estimação, introduzido pelo fundador da entidade, Neném de Argemiro, para dar um procedimento festivo mais adequado ao anunciar aos presentes a chegada dos confrades. Dentre os símbolos da Confraria d’O Berimbau, estão o sino, o trombone e a caneca de esmalte, na qual Neném de Argemiro sorvia preciosos goles das boas cachaças servidas com generosidade.
Com o passar do tempo, volta e meia o sino era retirado furtivamente por um indesejável, quem sabe insatisfeito com o tratamento nada receptivo. Do mesmo jeito em que o sino sumia, semanas depois aparecia, misteriosamente. Só poderia ser um mau feito de algum engraçadinho especializado no sumiço do sino, deixando os confrades sem a tão festiva recepção nas assembleias de sábado.
Cerca de uns dois anos depois, o furtivo larápio mudou o modus operandi ao deixar o sino à vista dos confrades, porém completamente mudo, sem o badalo, retirado com maestria, é bom que se diga. E não houve investigação que conseguisse descobrir o meliante inimigo do badalar do sino, cujo ritual seria imprescindível para dar as boas-vindas aos confrades e os visitantes mais chegados.
Foi preciso o Secretário Plenipotenciário da Confraria d’O Berimbau, Gilbertão Mineiro, decidir instalar uma CPI para apurar o sumiço do badalo do conceituado sino vítima constante de sumiço. Prometendo apurar com rigor, concedeu o prazo de uma semana para que os membros da CPI encarregados das investigações de um dos equipamentos mais importantes da Confraria desse início ao competente inquérito.
De acordo com as primeiras sindicâncias, o badalo do festejado sino teria sido surrupiado por um dos confrades que não tem no toque do sino a festejada celebração no recebimento dos confrades. Pelo sim, pelo não, a comissão de sindicância resolveu ampliar a investigação a novos confrades, notadamente os que se enquadravam na conduta de condição de “inimigos do sino”.
Ouvidos pelos membros da comissão de sindicância no expediente de sábado, os confrades negaram com veemência qualquer ligação com o sumiço do badalo. Também foram ouvidos pessoas consideradas suspeitas que trabalham na área, com a finalidade de saber quem esteve no ambiente, mesmo fora do horário, e sorrateiramente, desviou o badalo.
Diante da inutilidade do poder de investigação dos membros da CPI, foi publicado um edital para adquirir um novo badalo para o famoso símbolo d’O Berimbau, no sentido de conclamar os artesãos canavieirenses a se candidatem a fabricar um badalo para o descomposto sino. Pelo sim, pelo não, o presidente Zé do Gás resolveu instalar uma rede de câmeras para espionar quem seria responsável pelo tresloucado gesto de esconder o badalo.
Como corriqueiramente acontece em Brasília, a CPI d’O Berimbau foi desfeita por não concluir coisa alguma, embora produzisse um relatório altamente consubstanciado dando conta que não poderia indiciar nenhum dos confrades ou visitantes, por absoluta falta de provas. E de acordo com as leis, nem mesmo poderia declinar os nomes dos suspeitos para não incorrerem nos rigores da legislação.
Se o sistema de câmeras não funcionar só recorrendo ao FBI.
*Radialista, jornalista e advogado