Por Walmir Rosário*
Não leve o título deste artigo como pejorativo. Pelo contrário. É enaltecedor das peripécias do que pode ser capaz, seja por inconformismo de sua nova casa ou pelo comportamento de seus seguidores. Há quem tenha levantado a tese de que seriam essas suas novas travessuras fruto da redução do número de devotos, haja vista o aumento geométrico dos protestantes, com cada vez mais seguidores das velhas e novas denominações de igrejas.
Eu, com toda a sinceridade, não comungo esse estudo, se é que assim pode ser chamado, por não ter visto nenhuma base científica nesta pesquisa, que de tão chula não pode, sequer, ser chamada de empírica. Acho que nem mesmo tenha saído de conversa de boteco, já quando os clientes se encontram fora do controle de suas faculdades mentais, devido aos efeitos do alto consumo das variadas bebidas alcoólicas.
Para não enrolar muito, explico nessas poucas linhas: É que me senti inconformado com o sumiço da placa de comemoração dos 300 anos de fundação da Paróquia de São Boaventura, há tempos mais recuados. E olha que não é todo o dia que temos comemorações deste tipo, com a presença de altas autoridades civis e eclesiásticas, dada a importância do evento.
Acredito, mas longe de mim afirmar, que o sumiço da placa tenha sido ação de oposicionistas religiosos intolerantes, do tipo do que estamos vendo todos os dias explodindo prédios e gente por esse mundo de meu Deus. Pelos meus cálculos, isso deve ser fruto de algum desses poucos ateus que habitam em Canavieiras e que agem com certa frequência conforme os ditames da anarquia.
E demonstro: Já no auge dos festejos, um painel que retratava os feitos e eventos históricos da Paróquia de São Boaventura apareceu com uma das fotos fora da ordem, ou seja, de cabeça pra baixo. Após a descoberta, não se discutiu muito o assunto, acho que por acreditarem sem importância, incapaz de levar qualquer mácula, ou pequena nódoa que seja. Tudo bem, passou em brancas nuvens, sem qualquer relevância.
Mas, com o sumiço da placa, os fiéis devotos de São Boaventura não se conformaram e passaram a questionar os pequenos atentados que deveriam ter a finalidade de desprestigiar tão brilhante homenagem. Mereceu até matéria jornalística investigativa do repórter Nei Amaral, da Costa Sul FM, que incomodaram setores da Igreja, e os motivaram a procurar tal profanada placa, finalmente encontrada num depósito no quintal da paróquia.
Se todos se dão por caso solucionado, volto a dizer que não comungo desse resultado. Mesmo sem ser historiador e não ter o conhecimento do mestre Durval Filho, nem dos memorialistas Raimundo Tedesco, Antônio Tolentino ou Beto Pescoço de Galinha, o que pouco passei as vistas aos acontecimentos pretéritos, a própria imagem de São Boaventura já fez algumas viagens sem a permissão dos dirigentes da Igreja.
Contam que trazida do distrito do Puxim para Canavieiras (sede), a imagem do seráfico doutor sumia da Igreja e voltava para o Puxim, caminhando pela praia, onde deixava seus passos impressos na areia. Lenda ou não, faz parte da hi(e)stória e levanta a suspeita de que não estaria sendo tratado com a importância do “amável padroeiro”, daí voltando, vez em quando, para o local em que teria desembarcado do navio que o trouxe da Europa.
Ligando um ponto a outro, me lembrei da indignação de um católico fervoroso que não se conformava com o tratamento dispensado por um frade nascido em Canavieiras e que nem mesmo esperou a homilia e deixou a missa por acabar para embarcar num avião. O motivo alegado por esse padre de meia batina é que teria que embarcar para Curitiba, onde participaria de uma manifestação pro Lula, preso na Polícia Federal. Te desconjuro!
Até onde me remete os parcos conhecimentos sobre os votos e a ordenação sacerdotal, as obrigações religiosas estariam acima das mundanas, principalmente das políticas. Quem é que vai acreditar que um padre abandonou o altar para visitar um seu líder, preso por embolsar dinheiro de forma desonesta, como disse a Justiça? Mas me disseram: não ligue não, pois o Tribunal de Contas também não leva muita fé nas ações desse padre, quando na política. Tudo farinha do mesmo saco!
Pelo meu pensar, livre pensar, o líder desse padre de meia batina deveria ser o bispo e outras autoridades religiosas, de acordo com a hierarquia da Igreja Católica, merecedoras do nosso respeito, já que não tem o dele. Mas isso é assunto para o Direito Canônico e outros regulamentos religiosos resolverem se deverão ou não submeterem o dito cujo aos rigores da lei. Será que falta uma força tarefa do tipo Lava Jato na Igreja?
Para concluir, acredito piamente que esse sumiço da placa comemorativa e da colocação da foto de cabeça pra baixo no painel comemorativo foi um recado dado à população de Canavieiras pelo festejado arcebispo de Albano. Ainda mais quando ele é festejado nesta cidade em data antecipada, 14 de julho, quando a data correta é 15 de julho, que também deixou de ser comemorada por um bando de infiéis.
Castigo…na certa. Depois não reclamem das peraltices do Santo.
*Radialista, jornalista e advogado.