Os dados servem como um alerta para a atual situação do país, principalmente relacionada à pandemia da Covid-19
Nos últimos 3 anos, o número total de vacinas caiu consideravelmente no Brasil. É o que aponta um estudo realizado na Bahia, pela estudante de medicina Náthaly Césare, do Centro Universitário de Tecnologia e Ciências (UniFTC), em parceria com o pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), Kiyoshi Fukutani, sobre a vacinação no país. A pesquisa científica, que tomou como base os últimos 20 anos de dados do Programa Nacional de Vacinação Brasileiro, indica a possibilidade de doenças já controladas voltarem a ter reincidência na população, visto que todas as vacinas que registraram queda são indicadas para o público infantil.
Os pesquisadores afirmam que a mudança do perfil vacinal, que antes ocorria de forma programada, passou nesses últimos 8 anos por uma variação que impossibilita prever o quanto da população irá se vacinar nos próximos anos. “Quando analisamos por regiões brasileiras, percebemos que algumas vacinas decaíram em todas elas, o que demonstra uma tendência nacional em negligenciar este ato que é tão importante para preservar a saúde da população. A cobertura vacinal que diminuiu está diretamente relacionada à população infantil, isso significa que no futuro podemos precisar lidar com o retorno de algumas doenças que já são consideradas extintas em nosso país e assim teremos que lidar com futuras epidemias”, alertou a estudante que está à frente do projeto.
Segundo Náthaly, o estudo é extremamente importante para que médicos e agentes de saúde possam criar medidas com o objetivo de impedir a volta dessas doenças. Para isso, a pesquisadora indica que é preciso investir em capacitação de profissionais de saúde, promover o compromisso político e público com a estratégia nacional de imunização e um acompanhamento do processo, além de divulgar a importância da vacina e sua efetividade para que possa contribuir com uma maior taxa de adesão da população. “Não podemos deixar de relembrar também que, sendo vacinação um modo de prevenir que determinadas doenças se espalhem, isso reduz o impacto econômico dos tratamentos médicos, uma vez que prevenir é muito mais barato que tratar”.
A estudante conta que a ideia de criar esta pesquisa surgiu da curiosidade em entender o comportamento da população no que diz respeito a vacinação, pois há um aumento considerável de Fake News, gerado muitas vezes por informações falsas, que surgem entre a própria população e dão força ao movimento contra imunização. “Além disso, o estudo se torna ainda mais pertinente em uma época quando não só o Brasil, mas o mundo inteiro está esperando por uma vacina, por isso, começamos a pesquisar os números de imunizados, uma vez que há muita desinformação nos movimentos antivacina, para identificar a nova expectativa de vacina para a Covid-19”, destacou.
De acordo com Náthaly, os números servem para traçar a dinâmica de cobertura ao longo da existência de programas de imunização nas mais diferentes regiões brasileiras. “É através de estudos como este que podemos prever a incidência de possíveis doenças e alertar toda a população para seguir o cronograma de vacinação das crianças e, desde cedo, conscientizar a todos sobre os benefícios da vacina. A consequência para uma sociedade que não se vacina pode ser severa, ainda mais em tempos de pandemia, quando há muita circulação de informações acerca da vindoura vacina, sendo que nem todas elas são verdadeiras”, ressaltou a estudante ao encorajar a população a buscar informações de fontes científicas oficiais. “Nos tempos atuais, o brasileiro passou a enxergar a necessidade da ciência e de ter informações passadas por profissionais, então precisamos estimular cada vez mais esse comportamento, para evitar que notícias falsas levem a diminuição de vacinação”.
O estudo, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb) e da Multinational Organization Network Sponsoring Translational and Epidemiological Research (Monster), será publicado em setembro de 2020 na revista internacional voltada para doenças infecciosas “International Journal of Infectious Diseases”. Diante do conteúdo pesquisado, Náthaly afirma que cabe agora à população mudar este panorama, para que através de informações comprovadas e campanhas por parte da gestão pública, o índice de pessoas vacinadas possa aumentar e, assim, diminuir o risco do surgimento de novas epidemias ou até pandemias.