Carlos Farias, de anfitrião a juiz conciliador

Farias, de camiseta, recebe amigos

Por Walmir Rosário

Nada melhor do que uma comemoração! Se for com os amigos do peito, melhor ainda, ainda mais com a fartura de uma boa mesa posta daquelas que dá trabalho para escolher o que comer e beber. Essas são boas dúvidas e, como bom observador do protocolo obedeço a ordem das entradas, do prato de resistência e sobremesas, acompanhadas dos aperitivos, cervejas, vinhos e licores.

E iríamos bebemorar em comemoração à ascensão do Dr. Carlos Farias Reis ao nobre cargo de Juiz Conciliador, via concurso público, com uma fausta moqueca servida aos amigos por dona Telma Farias, em sua residência. Prenúncio de um domingo bastante movimentado na vizinha cidade de Ilhéus, com todas as honras conferidas nos mais luxuosos manuais de etiqueta da high society.

Não era por menos que o saudoso amigo Raimundo Kruschewsky Gomes Ribeiro, o Barão de Popoff, exaltava as qualidades de Carlos Farias, como o último dos grandes anfitriões de Ilhéus. Com toda a razão o Barão de Popoff colocava o nobre Farias no lugar de Raimundo Pacheco Sá Barreto, a quem o escritor itabunense Jorge Amado chamava de o último coronel do cacau.

E o Barão de Popoff não media as palavras, complementando-as ser Carlos Farias um homem obstinado e que leva tudo a sério, nos mínimos detalhes, tal e qual deve ser. Talvez por Farias ter pertencido aos quadros da Petrobras, antes do estouro da boiada. Funcionário da Petrobras é gente séria e gasta o que ganha com o suor do seu rosto, argumentava Popoff.

Mas o que nos interessa é participar ativamente da homenagem ao Dr. Carlos Farias, que ao 68 anos, acadêmico do último semestre do curso de direito iniciava mais uma nova etapa em sua carreira profissional. Para os amigos mais íntimos, Farias não se diplomava em direito com o simples título de bacharel, mas sim de desembargador, pela experiência adquirida ao longo da vida.

Quando todos esperavam uma aposentadoria tranquila, Farias surpreende os amigos ao se matricular no curso de Direito e levar a faculdade a sério. Até aí, nenhuma novidade em se tratando do irrequieto Farias, homem acostumado às lides e que costuma se preocupar com as missões que assumiu por anos da Petrobras pelo mundo afora.

Agora, prestes a assumir a atividade jurídica, distribuiria direito a quem o tem, seria parabenizado pelos amigos de Ilhéus e Itabuna. Do Alto Beco do Fuxico uma caravana composta por José Senna, Walmir Rosário, José Adervan e Robson Nascimento e José Augusto Ferreira Filho veio cumprimentar Farias pela nova atividade – alçada por concurso, é bom que se diga.

A cada compromisso social na residência do agora juiz conciliador, saíamos de Itabuna às 6 da manhã, para um desejum na churrascaria de João Bitencourt, onde nos esperava com o jornalista Antônio Lopes e, às 7 em ponto, iniciávamos os trabalhos com uma cachaça mineira, cervejas e um lauta feijoada. Estávamos preparado para todas as homenagens.

Lá pelas 11 horas, chegava o jornalista Ramiro Aquino, Lício Fontes, e encontrávamos os amigos de Ilhéus, presença maciça dos professores de Carlos Farias – também responsáveis pela elevação do aluno à nova função. Presença com cadeira cativa nos almoços de Carlos Farias, Ruy “Tatu” Rehem, José Leite, Ademar do Bolo, “Moreia”, Miguel Soares, dentre outros.

Providência imediata do grupo era transportar a “mesa da diretoria” – móvel antigo de jacarandá com tampo de mármore de Carrara para debaixo da frondosa jaqueira. Como numa solenidade deste naipe não poderia faltar música ao vivo, os músicos Caio e Fernanda, apresentaram um vasto repertório de MPB, presente do filho Neto a Carlos Farias.

Comemos e bebemos, discursamos exaltando as qualidades do futuro juiz conciliador – também como anfitrião – e nos comprometemos a participar de novo encontro logo após a posse. Nada mal um novo banquete com o Dr. Farias entronizado no cargo, terno completo, ouvindo partes, examinando provas, celebrando acordos, enviando ao juiz titular processos para julgamento.

Mas eis que dia pra frente recebemos uma triste notícia, uma verdadeira bomba, dando conhecimento aos amigos que ele teria preterido a vaga, disponibilizando-a ao lugar abaixo imediato. Após muitas pesquisas ficamos sabendo que o motivo teria sido a ausência do padre João Oiticica, responsável por orações sublimes antes de ser servido o almoço em homenagem.

É que nas orações o padre sempre pedia a Deus e aos Santos que abençoasse aquele almoço, bem como às finanças do anfitrião para permitir um novo e bem próximo convite. E a justiça perdeu os bons serviços de um juiz conciliador que prometia rezar pela cartilha de saudoso jurista Ruy Barbosa, que preferiu gozar de sua aposentadoria no eixo Ilhéus-Salvador-Aracaju.