Dr. Enéas, uma história de dedicação à vida

Em janeiro de 2013, quando assumiu a diretoria médica, as condições do hospital eram caóticas, o que não intimidou este médico, à época com de 71 anos de idade.

Por Walmir Rosário

Faleceu na madrugada deste domingo (23), em Salvador, vítima da Covid-19, o médico pneumologista Enéas Silva de Carvalho Filho, de 79 anos, casado e pai de cinco filhos. Maranhense, deixou seu estado natal para estudar medicina na Bahia, e depois de formado se estabeleceu em Salvador, após casar com a médica especializada em dermatologia, Nely Campos de Carvalho.

E dessa união cresceram os cinco filhos, todos criados e exercendo atividades profissionais na medicina, odontologia, direito, educação e fisioterapia. Vida organizada, o casal cumpriu a promessa de anos passados: viver em Canavieiras após a aposentadoria. E estão cumprindo, proporcionando à sociedade tudo o que receberam durante os anos em atividade em Salvador.

Formado pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Dr. Enéas dedicou 52 anos a serviço da medicina, 38 deles como professor de Propedêutica de Pneumologia na Universidade Federal da Bahia (UFBa) e na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Durante esse tempo cuidou de pessoas, formou alunos, fez amigos.

Até hoje o respeito dos alunos pelo mestre é visto hoje com o carinho que é tratado pelos colegas, que o consideram um ícone da medicina. Mas esse tratamento não é dispensado somente agora e pode ser mensurado nos inúmeros convites que recebeu para ser homenageado como patrono ou paraninfo. Não poderia ser diferente para quem adotou como máxima: “Hospital sem estudante não tem muita motivação, dinamismo”.

Do caos ao sonho. Esta sempre foi a máxima do Dr. Enéas, tanto que quando se aposentou, em 2012, recebeu o convite do então prefeito de Canavieiras, Almir Melo, para dirigir o Hospital Municipal Régis Pacheco. Para ele não foi uma simples utopia e sim um trabalho de planejamento e gestão para dotar o “velho” hospital num dos mais modernos e eficientes centros de atendimento médico hospitalar.

A tarefa parecia simples, não fosse o histórico da situação desse importante equipamento médico-hospitalar responsável pelo atendimento à população de Canavieiras e região. Em janeiro de 2013, quando assumiu a diretoria médica, as condições do hospital eram caóticas, o que não intimidou este médico, à época com de 71 anos de idade.

Aos poucos, o Hospital Régis Pacheco passou por uma faxina generalizada em sua estrutura física, contratou uma equipe médica e de enfermagem, até voltar a ser credenciada pela Secretária Estadual da Saúde. Em apenas nove meses, a equipe da Secretaria Municipal da Saúde comemorou a inauguração do centro cirúrgico com a realização das primeiras cirurgias. Uma semana após mais seis cirurgias foram executadas, inclusive dois partos cesáreos.

Para Dr. Enéas, a tarefa não era difícil, pois exerceu o cargo de diretor do Hospital Otávio Mangabeira (Salvador), especializado em doenças pulmonares, tornando-se referência, inclusive, na formação dos profissionais de medicina. Imitando o ditado que diz, “quando se descansa carrega pedra”, a vida desse médico não foi diferente: após as aulas, consultório, previdência, plantões em hospitais, a exemplo do Getúlio Vargas, dentre outros.

Acostumado à formação dos profissionais da medicina, Dr. Enéas perseguiu um novo sonho: transformar o Hospital Municipal Régis Pacheco num hospital-escola. No seu entendimento, a combinação dos estudos teóricos com as aulas práticas possibilita um aprendizado mais eficaz e humano. É verdade que ele considera uma decisão de médio prazo, mas não descartou a possibilidade, pois vivencia situação idêntica, a conviver com grande de parte de seus alunos – médicos e enfermeiros – antes, colegas hoje no Hospital Régis Pacheco.

Em Canavieiras, não se limitou a ser o diretor médico do hospital, e era o primeiro a substituir qualquer colega que não pudesse se apresentar para o plantão. Ele mesmo agendou na escala do hospital um plantão de 24 horas semanais, quando atendia uma grande quantidade de pacientes, muitos deles para desfrutar da experiência do conceituado médico.

Seu passamento não poderia deixar de consternar profissionais da saúde, amigos, familiares e grande parte da população de Canavieiras.

*Radialista, jornalista e advogado