Luiz Ferreira da Silva*
Já não se desenha mais a absorção da CEPLAC pela EMBRAPA. Com a nomeação de um Diretor geral que conhece cacau por ouvir falar e, agora, uma coordenadora de pesquisa com mesmo pedigree, as cores foram fixadas.
E como a região esqueceu do que fora a sua instituição, deve estar eufórica e crendo que doravante a cacauicultura será outra.
Há uns 5 anos atrás alertei para certos detalhes, quando se falava nesta hipótese, como a salvação da lavoura. É de bom alvitre reforçar ainda mais a diferença entre as duas Instituições, que são díspares.
A EMBRAPA possui diversos Centros de produtos, tais como soja, fruticultura e mandioca, arroz e feijão, dentre outros. E adicionalmente, Centros de Recursos como o dos Cerrados, do Semiárido.
O CEPEC (Centro de Pesquisas do Cacau), implantado pela CEPLAC em 1962, com uma outra concepção, abrangendo tanto os produtos como os recursos, haja vista as pesquisas e levantamentos tanto nas disciplinas agronômicas (genética, solos, fitopatologia, fisiologia vegetal, entomologia, engenharia da produção, tecnologia de alimentos) quanto referentes aos recursos naturais (Pedologia, botânica, climatologia, fitogeografia, fotogrametria).
Dessa forma, o CEPEC, além das tecnologias de produtos, executava detalhados trabalhos fitogeográficos, pedológicos e climáticos, além dos acervos importantes como o herbário, os arboretos; de ações ecológicas na Estação Pau-Brasil, em Porto Seguro, bem como a instalação de um fundamental campo de germoplasma, em Belém; ou seja, era um centro sistêmico que não segmentava o problema por disciplina ou produto.
Tudo estava numa mesma unidade de pesquisa, possibilitando uma melhor aplicação das tecnologias geradas, bem como facilitando análise e interpretações com vistas a novas ações de desenvolvimento rural integrado.
Por outro lado, trabalhar com cultivos perenes não é a mesma coisa do que lidar com culturas de ciclo curto. A EMBRAPA nos mostrou isso. Muito bem, nestes, mas sendo muito insuficiente naqueles. Uma simples comparação, evidencia ainda mais, se a gente visualiza a Amazônia.
Lá está a pujança do cacau. Quem implantou? Talvez esteja equivocado, mas na mesma magnitude, desconheço a ação da EMBRAPA em outras lavouras perenes.
Não preciso dizer mais nada. Um bom entendedor há de se reflexionar e, quem sabe, dar razão a um pioneiro; neste 2021 completando 58 anos (janeiro de 1963) quando tive minha carteira profissional assinada.
*Pesquisador aposentado, ex-diretor da CEPLAC/CEPEC
luizferreira1937@gmail.com
O artigo do Dr. Luiz Ferreira, enseja que se avance na questão central do estiolamento da CEPLAC desde 1989,logo após a proclamação da liberdade com a promulgação da “Constituição Cidadã”. Muitos estudiosos da sociologia das organizações complexas, afirmavam ser a CEPLAC uma organização perene, nunca seria extinta e razão estava na maneira que ela estruturou os seus programas e projetos de pesquisa, ensino técnico, extensão rural e desenvolvimento : sempre com a participação da sociedade civil organizada, na via das organizações patronais de produtores de cacau, cooperativas regionais, sindicatos patronais e de trabalhadores rurais, além de organizações dos governos federal e estaduais (BA E ES). Qual a razão da extinção? A minha tese é de que o produto-comodite “salvo” das ameaças que os cenários competitivos apresentavam, porque deixar o produto na mão do estado-União? Assim aconteceu com o café, erva-mate, cana-de-açúcar, porque com o cacau seria diferente? Quem matou a ceplac foi o próprio empresário, aquele que um dia ajudou a criá-la e fez da mesma uma organização modelo para desenvolver a agricultura e o rural tropical. Outras teses são benvindas, mas por enquanto não se tem outra; se tem que se apresente.
Se a Embrapa aproveitar o que tem, e trouxer avanços para a cacauicultura, qual o problema de ser ceplac ou Embrapa o nome pouco importa, o que importa mesmo é o s produtores voltarem a produzir mais e com qualidade.