Luiz Ferreira da Silva*
Há muito que a Ceplac agoniza, exigindo remédios urgentes para a sua revitalização. Hoje, 2021, as medidas do governo federal indicam um processo de coma induzida.
O modelo Cavalete – pesquisa, ensino, extensão e apoio ao desenvolvimento – foi tendo seus pés bichados, reduzindo a um manco pé, sem condições de saltar as barreiras.
Walmir Rosário, em recente artigo, CEPLAC, O FIM: MELHOR TRATAR DA SUCESSÃO, inicia o seu artigo, assim: – “Ao que tudo indica, a paciente está em situação terminal, respirando por aparelhos e todos os medicamentos não conseguem debelar a septicemia, morte na certa apesar de todos os esforços”.
Eu e outros da velha guarda, por mais que tenhamos lutado pela sua revitalização, a esta altura não mais acreditamos que isso seja possível, haja vista o desinteresse político e a fragilidade da sociedade cacaueira.
Parece que a CEPLAC está naquela de caderneta de bodega de interior nordestino, de tempos idos: PASSE A RÉGUA E FECHE A CONTA.
Aqui, aposentado, ao completar 58 anos que me iniciei profissionalmente na CEPLAC (1963), expresso o meu alerta, considerando a ciência como o elo sustentável do desenvolvimento de toda atividade humana, de um modo geral, em cujo contexto a agropecuária se destaca.
Os avanços ocorridos neste setor, tornando o Brasil celeiro mundial, ao transformar os antes imprestáveis solos do cerrado em produtivas terras de soja, milho, algodão, dentre outras lavouras, demonstram tal assertiva.
E o cacau não pode ser diferente, sobretudo pelo iminente desafio ante ao mal da vassoura de bruxa, requerendo um Centro de Pesquisas capacitado em diversos elos da cadeia científica, notadamente a biotecnologia e consentâneos afins.
Por outro lado, recuperar a lavoura do cacau requer um esforço integrado para sanar 3 óbices:
– A decadência do cacau, cuja região se empobreceu com a sua derrocada, passando de exportadora para importadora;
– A deterioração da CEPLAC, passando de modelo eficaz para uma organização sem ânimos e sem recursos, cada vez mais declinando, sobretudo pela ingerência política insensata e descomedida; e
– A descapitalização e endividamento do produtor de cacau.
Certamente, não vai ser o projeto (CEPLAC-EMBRAPA), lançado com pompas pelo Ministério da Agricultura que vai salvar o cacau.
Ademais, como bem alertaram os pesquisadores aposentados, Tourinho e Manoel, – em seu artigo publicado recentemente (walmirrosario.blogspot.com), ao considerarem sobretudo a fragilidade de ambas, uma agonizante e a outra no mesmo caminho, que pode ser caracterizado como um abraço de afogados.
(Maceió, 18-05-2 021)
Ex-Diretor do CEPEC e da CEPLAC-Amazônia