Por Walmir Rosário*
O Brasil, que já ostentou – em tempos nem tão passados – o título de maior produtor de cacau do mundo, hoje está classificado numa modesta sétima colocação, embora a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, prometa transformações positivas, o que é bom. Mas vamos por partes, como diria aquele pseudo lorde inglês. A ministra pretende, num prazo de quatro anos, tornar o Brasil autossuficiente em cacau.
É possível que consigamos chegar a autossuficiência, o que não é garantia de deixaremos de importar cacau da África e Ásia, utilizando as facilidades permitidas pelo governo na importação e exportação, operação comandada pelos preços no mercado internacional. Já seria uma boa vantagem para a cacauicultura brasileira, que hoje mudou de lugar no mapa: deixou a Bahia e se mudou para o norte do país.
Uma simples olhada nos sites especialistas, nos mostra que em 2014 produzimos 450 mil toneladas de amêndoas e, cinco anos depois, somente conseguimos entregar ao mercado consumidor 250 mil toneladas. Uma queda brusca, apesar do aumento da produção – via aumento de área e produção – no Pará, que se transformou no primeiro produtor de cacau do Brasil.
E a Bahia perde pontos importantíssimos em sua economia, justamente nesse período em que aumenta o mercado consumidor em todo o mundo. Até mesmo a China, um mercado consumidor desejado pelo Brasil, passou à condição de país exportador de cacau, vendendo cacau para a Índia. País de dimensões continentais, a China produz cacau – pouco, é verdade – na província de Hainan, região sul e de clima tropical.
O rápido progresso alcançado na China é um sinal claro do aproveitamento das áreas produtivas, procedimento esse desprezado no Brasil, que possui áreas excelentes para o cultivo, clima apropriado, mão de obra disponível, tecnologia avançada e vasto mercado (interno e externo). Pra chover no molhado, a cada dia o mercado consumidor aumenta de forma espetacular.
Enquanto regredimos na produção baiana, a lavoura de cacau cresce de forma robusta no norte brasileiro, especialmente no Pará, com percentuais próximos a chegar aos 20% ao ano. Enquanto isso, na Bahia, a manutenção da produção teria sido feita sem o empreendimento de tantos esforços, já que se trata – na maioria – de recuperação de áreas degradadas, com substituições de plantas de alta produtividade.
Não estou criando nada de excepcional, apenas cito o comportamento óbvio que deveria ter sido tomado anos passados, pois não existe no mundo commoditie agrícola que alcance melhores condições de aceitação e liquidez no pagamento como o cacau. Portanto, não bastaria apenas eleger a vassoura de bruxa como culpada, o que é fato, mas a falta de políticas públicas eficientes e eficazes.
Nos últimos 30 anos, o governo federal agiu como um pesado paquiderme deitado na lama em dia de sol quente, virando-se de um lado para outro no mesmo lugar. Se instituições do próprio governo pesquisavam para entregar a ciência aos cacauicultores, outros órgãos dificultaram a aplicação da tecnologia concebida, impedindo o repasse dos recursos financeiros para a transformação benéfica da lavoura.
Os cacauicultores que dispunham de recursos conseguiram trocar as plantas velhas e decadentes por novos cultivares, por meio de substituição total ou clonagem, alcançando grandes resultados. Já os desprovidos – financeiramente – tiveram que desempregar a mão de obra contratada, abandonar suas lavouras, aumentando a fonte pressão de inóculo do fungo, prejudicando as plantações vizinhas.
Os que conseguiram se manter na atividade ganharam nova mentalidade e passaram a conviver com os frutos de ouro, observando todos os requisitos da agronomia e administração. Plantas tolerantes à vassoura de bruxa e de alta produtividade passaram a compor a nova lavoura, que se expandiu para a produção de cacau finos e orgânicos, vendidos com sobrepreço, de acordo com sua qualidade.
E a especialização é a condição sine qua non de sobrevivência do produtor rural que pretende ter sucesso na cacauicultura. Hoje, o mercado regula os preços do cacau pela boa prática na colheita, a qualidade da fermentação e todo o processo de secagem. Ter alta produtividade é um atributo necessário, porém torna-se cada vez mais competitivo se oferecer ao mercado amêndoas para serem transformadas no melhor chocolate.
O prazo concedido pela ministra Tereza Cristina para alcançarmos a autossuficiência da cacauicultura brasileira em 2025 é uma primeira meta a ser batida, porém não deveremos nos descuidar de voltarmos às primeiras posições de produtores mundiais. E o Sul da Bahia não pode ficar de fora, pois dispõe da tecnologia disponibilizada pela Ceplac e moderna infraestrutura (estradas, energia elétrica, cultivares, mão de obra e mercado).
Faltam apenas os recursos disponíveis para trabalhar os melhores solos e plantas da cacauicultura mais conceituada do mundo. Dependemos apenas de políticas públicas que deem resultados positivos. Quanto ao fazer uma agricultura de qualidade, os políticos não devem se preocupar, pois essa gente do campo detém know how suficiente para fazer um bom chocolate e trazer divisas para o Brasil.
*Radialista, jornalista e advogado