Tenho pavor em almoçar fora de casa nessas datas em que se comemoram o Dia das Mães, Namorados, etc. Não pela comemoração, mas pelo fato de ir a um restaurante lotado, com filas e senhas (haja espera), o que causa muita tensão. O pior está por vir quando nos sentamos à mesa, pois a espera é bem maior do que imaginávamos e seremos mal servidos – não pelos garçons e cozinheiros, mas pela falta de estrutura.
Prefiro ir para a cozinha e prestar minha homenagem, preparando um prato que lembra nossos “brimos”. Pois queiramos ou não os sírios, libaneses e os turcos foram muito importantes para o desenvolvimento do Sul da Bahia, especialmente Itabuna. Até o nosso conterrâneo Jorge Amado – itabunense que os ilheenses tentam tomar de nós – escreveu sobre a fundação da cidade pelos otomanos. E haja história e estórias para contar…
Pois é, apesar das diferenças entre sírios, libaneses e turcos, uma coisa os une: a comida. Especialmente o carneiro criado nas montanhas desses países e preparados das formas mais diferentes. Melhor dizendo, mudam-se alguns maravilhosos temperos, mas não a essência. E como acompanhamento, nada melhor do que o velho e sagrado pão – sírio, turco, árabe, pouco importa.
Essa confusão é normal, embora não justifique o rancor dos sírios e libaneses pelos turcos, pelo simples fato destes não serem árabes. Mesmo assim não dispensavam o passaporte turco para embarcar para o longínquo Brasil. “Brimos” ou não continuarão tendo o carneiro e pão em suas mesas per omnia saecula saeculorum.
E numa das famosas farras das noites de sextas-feiras no Jornal Agora, o festeiro anfitrião jornalista José Adervan decretou:
– Walmir Rosário, vamos comer aquele carneirinho que o senhor prometeu preparar e que até hoje ainda não provamos. E nada melhor do que um carneiro turco para comemorar os 103 anos de Itabuna. E vamos chamar os convidados para atestar o prato. De Ilhéus, não esqueça Carlos Farias e José Nazal – ordenou.
Diante de tamanha incumbência, a primeira providência por mim adotada foi solicitar a Paulo Dantas um pernil de carneiro à altura dos convidados e da festejada comemoração. Um cordeiro uruguaio bem alimentado e de carne marmorizada foi o escolhido. Agora era só sair em busca dos temperos, mas nada de diferente, essências e especiarias do nosso dia a dia.
Carneiro na geladeira, temperos à mão, a segunda providência para atender às ordens de Adervan foi pegar o celular e ligar para os convidados. Convite feito e divulgado o prato, o evento “vazou” para as redes sociais, entre eles o Facebook. Mas nada se comparava à descortesia de determinados convidados, incrédulos com minhas práticas em artes culinárias, porém ávidos pela comilança.
Alguns mais desinformados nem conhecimento possuíam sobre esse hobby que cultivo. Outros, mais ou menos informados, como Carlos Farias, duvidavam da minha competência em carnes, especialmente carneiro. Sabiam eles, por ouvir dizer, que eu teria sido aluno do festejado curso de peixes e frutos do mar ministrado por Antônio Olímpio Rhem da Silva, doutor em Direito, política, pescaria e culinária.
Mas duvidavam das carnes. Esperavam pelo veredito de José Nazal, conhecedor e praticante da arte de cozinhar e comer, especialista na culinária árabe, aprendida no cotidiano com os avós. Para a decepção dos comensais, Nazal não compareceu, desculpando-se do dia estafante e de dores de cabeça. Perdeu, mas recebeu relatório oral detalhado de Carlos Farias, que lambeu “beiços e dedos”.
Mesa posta, copos cheios e barrigas vazias, era chegada a “hora do vamos ver”. Nisso chega um batalhão de gente capitaneado por Renato Costa e Juvenal Maynart. Comeram de sem descanso e ainda pediram a receita. Sem falar em convidados tantos outros, ávidos por degustar o carneiro e me pôr à prova.
Aprovado com distinção e louvor pelos convivas, fui promovido a chef de forno e fogão. Parecia até que se tratava de marinheiro de primeira viagem e não um marujo acostumado a enfrentar as ondas revoltas pelos sete mares…ou cozinhas! Portanto, recomendo que deixe as mães em casa e se aventure na cozinha, pois o preparo é bem fácil.
Vamos preparar o carneiro (recheio):
Ingredientes:
3 kg de pernil de cordeiro;
6 cebolas roxas grandes;
12 dentes de alho;
100 g de açúcar mascavo;
3 colheres de sopa de tomate em calda;
260 g de polpa de tomate;
4 colheres de sopa de mostarda;
2 colheres de sopa (bem cheias) de páprica picante;
2 colheres de sopa de cominho em pó;
1/2 xícara de chá de vinagre de vinho tinto;
1/2 xícara de molho inglês;
Azeite para fritar a carne;
Sal (a gosto)
Pimenta-do-reino (a gosto);
1 xícara de água
PÃO TURCO (50 unidades):
Ingredientes:
1 kg de farinha de trigo;
650 ml de água;
20 g de sal.
Modo de preparo do pão:
Coloque a farinha de trigo e o sal numa vasilha e vá misturando, aos poucos, com água morna até formar assim uma massa compacta elástica. Deixe descansar por 15 minutos e depois separe em bolinhas. Em seguida, abra com um rolo para que fique em forma circular e fina. Depois leve em uma frigideira (ou chapa) e asse em fogo médio.
Modo de preparo da carne:
Corte a carne em pedaços médios e reserve. Corte as cebolas em fatias finas e pique os dentes de alho. Misture todos os temperos em uma vasilha: mostrada, vinagre, molho inglês, pimenta e sal, açúcar mascavo, polpa de tomate e tomates em calda.
Em seguida, doure a carne em um pouco de azeite bem quente. Retire a carne, e aproveite o azeite que sobrou da fritura da carne na mesma panela, coloque a cebola e o alho para fritar, depois junte a carne por cinco minutos a fogo médio. Tire a panela do fogo e adicione os temperos e a água. Tampe a panela e coloque no forno preaquecido a 180º C por duas horas.
Quando estiver cozido tire do forno e deixe resfriar. Em seguida, desfie a carne com as mãos ou a ajuda de um garfo e coloque novamente na panela, deixando secar um pouco no fogo e com cuidado para não deixar grudar no fundo da panela.
Agora é a parte melhor, comer: pegue um pão turco e coloque uma porção da carne, enrolando-o e como à vontade. Sirva com um bom vinho ou cerveja artesanal. Aos “brimos” recomendo, antes, algumas doses do aperitivo Arak.
Pois é, apesar das diferenças entre sírios, libaneses e turcos, uma coisa os une: a farta mesa de comida. Especialmente o carneiro criado nas montanhas desses países e preparados das formas mais diferentes. Melhor dizendo, mudam-se alguns maravilhosos temperos, mas não a essência.